No dia em que se assinalou a passagem do 45.º aniversário da morte do advogado e político Alcides Strecht Monteiro, 14 de junho, foi edificado um busto de homenagem ao feirense, que desempenhou um papel ativo e interventivo na sociedade portuguesa, em geral, e na feirense, em particular
“Comendador da Ordem da Liberdade. Viveu pela nobreza dos grandes ideais. Sucumbiu na luta”. É desta forma que Alcides Strecht Monteiro, que nasceu em Fiães, a 2 de abril de 1910, é descrito no busto erigido em sua homenagem junto ao edifício do Tribunal, na Rua Dr. Alcides Strecht Monteiro, em Santa Maria da Feira.
A cerimónia de descerramento do busto em bronze decorreu ao final do dia em que se assinalaram 45 anos desde a sua morte (14 de junho), que ocorreu durante uma viagem de comboio a Lisboa, onde iria participar numa sessão da Assembleia da República. Várias figuras políticas e dezenas de populares marcaram presença na homenagem ao feirense que desempenhou uma intensa atividade política, antes e após o 25 de Abril.
Entre muita emoção e lágrimas, Elísio Costa Amorim, o líder da homenagem cívica que solicitou ao executivo para se associar ao movimento de homenagem ao advogado e político, foi o primeiro a tomar da palavra na cerimónia. Depois dos agradecimentos, em especial ao presidente da Câmara Municipal, Emídio Sousa, por se ter mostrado “disponível para concluir um ciclo afeto a um democrata que foi um exemplo na sociedade”, Costa Amorim enalteceu o homenageado. “Foi um cidadão feirense que honrou o Concelho. A homenagem é cívica e não partidária, tal como foi o Alcides, que se sobrepôs sempre às questões partidárias. Foi um brilhante advogado e todos os que passarem no Tribunal, a partir de agora, vão ver o seu exemplo, que temos de prosseguir em busca da democracia e da liberdade”, afirmou, elogiando, por último, o trabalho do escultor com ligação ao concelho de Santa Maria da Feira, Alves André.
Por sua vez, o advogado Cardoso da Costa recordou vários episódios da vida pessoal de Alcides Strecht Monteiro, para dar nota da sua veia “afável” e “social”. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu advocacia em escritório próprio, destacando-se na defesa dos mais “vulneráveis”. O feirense foi ainda deputado na Assembleia da República na I Legislatura até falecer, assumindo-se interventivo nas lutas contra a ditadura. Este papel não foi esquecido pelo advogado, Cardoso da Costa, que destacou “a atividade intensa na implementação do Partido Socialista”. Também Carlos Jorge Oliveira, presidente da Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira, sublinhou o seu desempenho na vida política. “Criou, juntamente com outras figuras, desde cedo, a literacia política, permitindo que a Revolução de Abril não fosse apenas militar, mas social. A sociedade civil estava sedenta e capaz da mudança. Nós, democratas, devemos muito a Alcides, por ter lançado a semente da democracia. Amava a terra como ninguém e este busto privilegia inclusive a praça [do Tribunal]”.
“Foi um homem que lutou pela liberdade”
No momento dedicado a relembrar o advogado, o político e o cidadão Alcides Strecht Monteiro, Emídio Sousa preferiu falar sobre a pessoa. “Acrescentaria que foi um homem do movimento associativo, porque foi presidente de várias instituições em Santa Maria da Feira. É uma honra que esta homenagem seja feita neste mandato. Alcides é uma personalidade do Concelho e as pessoas mais ilustres devem ser reconhecidas”, adiantou o autarca, asseverando que o busto perpetuará a sua memória. “No futuro, sentir-me-ei orgulhoso sempre que alguém, ao subir esta escadaria, se questionar sobre quem teria sido este homem, perceba que este feirense foi um homem que lutou pela democracia, mas que acima de tudo, foi um homem que lutou pela liberdade”.
O busto em bronze, da autoria de Alves André, escultor com uma já longa ligação ao concelho de Santa Maria da Feira, espelha, segundo a Autarquia, o simbolismo da homenagem e acrescenta valor à Arte Urbana do Concelho.
Recorde-se que Alcides Strecht Monteiro foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade, a título póstumo, em 1985, pelo Presidente da República Ramalho Eanes.