25 de Abril
Opinião

25 de Abril

A clientela de interesses que gravita no Terreiro do Paço impede que os valores de Abril sejam cumpridos

Passados cerca de 50 anos após a Revolução dos Cravos, os portugueses começam a perder a paciência em relação à falta de respostas políticas que façam cumprir os desígnios de Abril.

A persistente falta de vontade política em descentralizar competências para as regiões, não permite que o povo possa decidir os seus destinos. As decisões centralizadas no Terreiro do Paço, não respeitam os valores constitucionais aprovados e sucessivamente adiados desde 1975, que atrofiam o desenvolvimento do país!…

Os portugueses vão assistindo a um Poder Central, que facilita a fixação de poderosas instituições na capital, agarradas ao velho slogan Salazarista, “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”. Esta forma de governação, sustentada por “Caciques palacianos, é um entrave a uma das maiores conquistas do 25 de abril, a Regionalização.

O País está amarrado à uma centralização anacrónica, onde os seus Serviços Centrais, demoram uma eternidade a responder às consultas solicitadas pelos cidadãos, prejudicando severamente a economia, o ambiente, a proteção civil, a saúde, a educação, a justiça etc. Os prejuízos resultantes da falta de proximidade e de prontidão para as respostas solicitadas pelos agentes económicos e sociais da província, são enervantes e inaceitáveis. As trajetórias feitas pelos pedidos de pareceres aos Serviços Centrais estabelecidos em Lisboa, são do 3.º mundo. Estes, instalados na capital, devolvem os pedidos a Aveiro, Porto, S. Maria da Feira etc. solicitando informações. Após estes trâmites as informações locais são reenviadas para o Terreiro do Paço. Só após esta via-sacra é que o pedido finalmente é atendido, salvo se não surgir qualquer inconformidade! Doutro modo, reinicia-se novamente a via-sacra!

Sabemos que junto aos Serviços Centrais gravitam os grandes grupos empresariais, dependentes dos interesses instalados no Terreiro do Paço, sentados à volta da mesa do Orçamento que alimenta o monstro do centralismo, deixando migalhas para as regiões. O “terreiro dos interesses”, onde proliferam os interesses da TAP, CP, das Telecomunicações, da Energia, da Proteção Civil etc. atrofiam o desenvolvimento sustentado do país, dando maus exemplos de governação. São precisos serviços regionais autónomos com competências, próximos das populações, tornando mais ágil, mais eficiente e eficaz a prestação dos Serviços Públicos. “Isto é… Falta fazer Abril”.

Por outro lado, a ética republicana não se afirma, é cada vez mais escassa. ”Isto é… Falta cumprir Abril”. É preciso promover valores de cidadania democráticos com a participação de todos. É preciso acabar com a profissionalização das juventudes partidárias, ausentes de causas e valores, cuja principal motivação é defender interesses pessoais, controlando a vida interna dos partidos. “Isto é…. Abril a degradar-se”.

Urge implementar verdadeiras reformas no actual modelo político partidário, sob pena da democracia caminhar para o abismo! A partidarização da política, impede que os Deputados da Nação, possam ser eleitos em listas uninominais…dado que os interesses dos partidos, iriam ser naturalmente postos em causa. “Isto não é… servir Abril”

Por último, festejemos mais um aniversário do 25 de abril, mas não aceitemos o eterno adiamento dos grandes valores da revolução, com particular destaque para a habitação, educação, saúde, justiça e regionalização. Esta inquietação, tira brilho e entusiasmo às comemorações, deixando tristes todos os que acreditam que os valores de Abril, podem construir um Portugal melhor.

Os valores democráticos do sistema político e da ética republicana estão em crise, pondo em causa a nossa Democracia e o nosso Estado de Direito, conquistados na Revolução dos Cravos! Abril sempre!

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António Cardoso

Antonio Cardoso
COLUNISTA
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