É-me difícil acreditar, que depois de uma aula, que nos leva a um qualquer canto do éden, o senhor professor nos proponha afinal, não um parque, mas um equipamento para eventos ao ar livre, apesar de justificar que criou “o que lhe pediram”.
Jorge de Andrade
O auditório do ISVOUGA foi palco de uma excelente apresentação do estudo de reformulação e expansão desse bonito espaço natural, centralmente localizado na nossa cidade da Feira. Foi responsável pela apresentação desse projecto o distinto arquitecto, senhor professor Sidónio Costa Pardal.
Se aquele espaço nada representasse, ou me fosse completamente indiferente o que lá fizessem, talvez me calasse, bem ao estilo português…, enfim, seguia com a minha vida, que tenho mais com que me preocupar.
Mas não é assim, diz-me muito e tudo o que lá fazem, na grande maioria das vezes, acaba por afectar-me directa e indirectamente, tendo até servido como instrumento de vingança, ao serviço do governo local, para ajuste de contas, sempre que não disse “Ámen” com as suas práticas, pouco ou nada democráticas e contrárias ao real interesse dos cidadãos que os elegeram.
De volta à apresentação!
Foi excelente. Tendo começado por uma breve passagem pela história da arquitectura paisagista. Confesso que foi a parte de que mais gostei. Evidentemente que as críticas aos adjectivos, que o senhor professor utilizou, relativamente a alguns dos seus antecessores, por motivo da inspiração reflectida em obra, não caíram bem a alguns presentes, mas é assim mesmo. A partir de uma certa altura da nossa vida, não há que ter medo de darmos a nossa opinião sincera e honestamente defender o que pensamos, sobre determinado assunto, obra, seja o que for, parque urbano, por exemplo.
Para mim, o momento comparativo em que se debruça sobre a história do Central Park e objectivos desejados para aquele espaço nova iorquino foi um dos momentos chave da apresentação. Apesar da magnitude das diferenças proporcionais, poderia pelo menos nos objectivos encontrar-se algumas semelhanças.
Explico-me. A preocupação do bem-estar harmonioso, entre Ser Humano e Natureza, deveria ser preocupação presente e premente em todos os cidadãos, em especial nos políticos que ambicionam deixar obra feita nessa área.
Chegados à apresentação de um estudo para um parque urbano em Santa Maria da Feira, na antiga quinta dos Condes de Fijô, e não só, dá-se o momento da descoberta, que estamos perante um embuste. Chegámos ao fim da dita apresentação com a certeza de que uma vez mais nos estão a fazer de idiotas, porque não estamos perante uma proposta para um parque urbano, despido de todas e qualquer referência, como nos tinha sido apresentado como modelo, mas de um equipamento, muito bem preparado para determinado evento.
Tendo em conta tudo o que anteriormente escutámos do responsável pela apresentação, que é também responsável pelo estudo/projecto, a bota não bate com a perdigota.
Ora, se um parque urbano tem como primordial objectivo libertar o homem citadino das amarras do seu tempo existencial, devolvendo-o a um elemento mais “natural”, ainda que numa natureza pensada, para uma saudável convivência, onde Homem, Fauna e Flora se respeitam, excluindo registos ou referências, lamento, mas não há espaço para atropelos, ou ofensas ao mais elementar direito dessa Natureza: Sobreviver.
Se um parque urbano é uma natureza pensada, no limite dos limites, ‘amansada’, não é, não pode ser um equipamento ao serviço de um qualquer evento abcesso, ou pelo menos não deveria sê-lo.
Isto é o que penso de um parque urbano e não me pareceu muito diferente da ideia de parque que o arquitecto Sidónio Costa Pardal nos definiu, até à apresentação do estudo. Uma vez mais vou-me valer do imenso parque de Nova Iorque, o Central Park.
Lembro a imagem que nos deixou o senhor professor, do executivo nova iorquino, que após uma noite mais animada, no dia seguinte, durante a hora de almoço fez do relvado do parque a sua cama, na tentativa de repor alguma energia gasta, e muito bem, na muito divertida noite anterior.
O outro momento que recordo é a opinião negativa, que nos deixou sobre o famoso palco, construído fora do projecto original para o Central Park, criticando inclusive, a necessidade da colocação de estruturas, ao longo dos caminhos, para evitar os atropelos, assaltos ao meio ambiente, que infelizmente são inevitáveis, quando juntamos num determinado espaço, um número desproporcionado de pessoas…
O Central Park, na sua original concepção de Parque Urbano, não comporta tais possibilidades, nem outro parque em lado nenhum, independentemente da dimensão. O azeite não se mistura com água. Não que o azeite seja mais ou menos importante que a água, ou vice-versa, simplesmente não se misturam. Só isso!
Aqui chegados, o que pensar?
O senhor professor cometeu uma grave incoerência, ou quis deixar-nos uma advertência, em grito de alerta?
Esta é a minha dúvida. É dúvida sem o ser. Simplesmente porque não acredito, que um senhor daquela estaleca, que tem a coragem de nos dizer “isto é, horrorrrrroso”, como deve ser há boa maneira queque, sobre obras consideradas património, depois embarque numa contradição do tamanho do nosso ‘parquito’ Condes de Fijô, que para nós é muito grande e imperdível.
É-me difícil acreditar, que depois de uma aula, que nos leva a um qualquer canto do éden, o senhor professor nos proponha afinal, não um parque, mas um equipamento para eventos ao ar livre, apesar de justificar que criou “o que lhe pediram”.
Escutei na última resposta à minha pergunta que: “cabe ao cliente o uso que vai dar à obra que crio.” Género: “façam a vossa parte, sejam exigentes!”. Esta interpretação só a mim me responsabiliza. Advinda de uma necessidade urgente em acreditar que não estamos todos à venda, pelas trinta moedas de prata.
Mas nem tudo está perdido, porque, acreditando no que está impresso no convite, que o nosso presidente da Câmara me fez chegar, estamos perante um estudo. Ora, um estudo prossupõe que nada é definitivo e que a discussão está levantada…
Espero que, desta vez, tenhamos coragem de dar à Natureza, mesmo que a ‘amansada’, um lugar na nossa vida, para deixarmos um futuro melhor às gerações que nos sucederam.