Caos nas SAD’s
Opinião

Caos nas SAD’s

Desporto profissional, em especial o futebol, mergulhado em promíscuos conflitos de interesses

No dia 15 de dezembro de 1995, o Tribunal Europeu de Justiça tomou uma decisão histórica, que revolucionou o mundo do futebol, passando a ser conhecida por ‘Lei Bosman’. Até então, os jogadores de futebol cidadãos da União Europeia (UE), não podiam deixar um clube do espaço comunitário, mesmo que terminassem o seu contrato sem sua autorização. O acórdão do Tribunal Europeu que consagrou a Lei Bosman, veio permitir a qualquer jogador de futebol, findo o seu contrato, poder ingressar noutro clube da UE, assinando novo vínculo, sem haver a obrigação de pagar qualquer indemnização ao clube anterior, isto é, pode sair a custo zero.

Passados quase vinte anos após a vitória de Jean-Marc Bosman no Tribunal Europeu que fez jurisprudência contra as entidades que regulavam e continuam a regular o futebol, abriram-se novos nichos de negócio criando oportunidades de aumentar lucros desmedidos dos agentes (empresários), que passaram a intermediar transações bilionárias.

A primeira grande mudança resultante desta decisão, levou a que os melhores jogadores do mundo se concentrem nos clubes (SAD’s) de maior potencial financeiro, onde o dinheiro é cada vez mais determinante no futebol.

Naturalmente que esta mudança de paradigma, pesa muito nos orçamentos dos clubes que querem conquistar as grandes competições. Este novo formato, provocou migração dos grandes jogadores, cujas propostas de contratação passaram a atingir valores irrecusáveis. Ao mesmo tempo, estas ambições tornaram-se perniciosas dados os ‘naturais insucessos’ de quem se entrega em exclusivo à formação de jogadores, pois são muitos os praticantes e poucos os que têm futuro como profissionais.

Chegados aqui, eis surge a intervenção do empresário na qualidade de representante do jogador. Quando esta é feita com confiança, procurando os melhores objetivos e aspirações na carreira do jogador, esta ligação é positiva e inevitável. Compete ao empresário ser responsável por assessorar o jogador em questões legais e financeiras, garantindo que ele esteja bem orientado e protegido durante os naturais processos de transferência de buscas de melhores oportunidades noutros clubes dentro e fora do país.

Por outro lado, as SAD’s, cujo administrador à luz do Código de Sociedades Comerciais, devem destacar-se pelo seu conhecimento, experiência e rodearem-se de pessoas com outras visões, pode ser bom para a profissionalização atraindo investimentos para o clube e SAD. Resumindo, o administrador da SAD, deve estar bem informado, agir com racionalidade económica sempre liberto de qualquer “interesse pessoal”.

Todas estas novas realidades no futebol pós Lei Bosman, provocaram o aparecimento de inúmeras SAD’s que numa triangulação de interesses (jogador/empresário e SAD), estão a gerar relações profissionais no futebol, com interesses duvidosos devido á falta de transparência nos negócios envolvidos. Tudo isto acontece porque a maioria das ações das SAD’s estão concentradas à volta de quem dirige o clube, que assim domina as deliberações. Os “comerciantes do desporto profissional” em especial do Futebol, querem as SAD’s abertas a pessoas ou entidades externas, com sociedades desportivas detidas por empresas ou repartidas por investidores externos e clubes para angariar financiamento, jogadores influentes, patrocínios etc. sem acautelar a identidade e o futuro do clube!

Ao defender o desporto como um negócio de interesses duvidosos, a “cultura desportiva de um clube” que é a alma da sua existência, apaga uma identidade de marca a paixão dos seus associados

Em vigor desde 2013, a gestão das SAD’s, é pautada por uma elevada falta de transparência, devido à opacidade do seu funcionamento, cujos sinais vindos a público, indiciam que 20% das SAD’s estão a caminho da dissolução ou insolvência.

Urge tomar medidas que garantam que os valores da ética desportiva ficarão protegidos e imunes, evitando que se espalhe a promiscuidade do conflito de interesses entre técnicos, jogadores e dirigentes da SAD! Senão vejamos:

– Será ético, um treinador ter o mesmo empresário, quando este, pode ter vários jogadores seus nessa equipa, com a implícita situação de conflitos de interesses?

– Um dirigente de uma SAD pode ser empresário de jogadores desse clube, com a implícita situação de conflito de interesses?

Estas práticas empresariais com conflitos de interesses, devem ser banidos das práticas de gestão das SAD’s.  Recentemente, o Governo fez publicar nova legislação, que visa regularizar o caos em que vivem as SAD’s com consequências graves no desporto profissionalizado. Espera-se que esta nova legislação, ponha ordem nas relações entre os Agentes do Desporto profissional (técnicos, empresários, jogadores e dirigentes das SAD’s).

Assine agora
António Cardoso

Antonio Cardoso
COLUNISTA
    X