Com a parceria de Quadrante Viagens e Correio da Feira
Corria o ano de 1523 quando Gil Vicente levou pela primeira vez à cena o Auto de Inês Pereira, representando-o, então, para o “muyto alto, i mui poderoso i Rey dom Joam o terceyro no seu convento de Tomar”.
Passados exatamente 500 anos, a pintora feirense Débora Pax apresenta INÊS FARSOLA, a insígnia de um conjunto de trabalhos relacionados com aquela ‘farsa de folgar’, em que apreende e interpreta momentos-chave do trama intemporal de Gil Vicente.
Trata-se da conjunção de um fragmentário em que, personagens e circunstâncias do enredo, se apresentam indelevelmente reflexivas da cronologia da produção do acervo, iniciada há mais de oito anos. Daí que, quer o fácies dos personagens, quer o próprio estilo criativo adotado, ou os enquadramentos – de que se não afasta a forma mordaz e divertida – acabem por refletir a inspiração e (até) o estado de espírito da autora, a cada momento criativo.
O surpreendente resultado mostra-se liberto de amarras imagéticas e temporais, traduzindo-se numa interpretação livre, sensitiva e vibrante em que se denuncia a paixão da artista plástica feirense pelo génio de Gil Vicente, em especial pela ‘Farsa de Inês Pereira’. Sempre sem mácula do propósito original.
Projeto vai ser apresentado em itinerância
A exposição, que é a pedra basilar do projeto comemorativo do 500.º aniversário da apresentação do Auto de Inês Pereira, e que mereceu desde início o Alto Patrocínio do Presidente da República, foi inaugurada em Tomar no final de sexta-feira, 29 de setembro, pelo presidente do município, Hugo Cristóvão, na presença de várias individualidades, convidados e público anónimo.
O autarca agradeceu a iniciativa, sublinhando a importância que a mostra tem para a efeméride, para a cidade de Tomar e para o panorama artístico em geral, acompanhando depois a autora durante a explicação pormenorizada das cenas retratadas e reinterpretadas na singularidade criativa de Débora Pax.
Após a inauguração e mostra em Tomar, INÊS FARSOLA vai estar patente na Assembleia da República, de 25 de outubro até meados de novembro, seguindo depois em itinerância para outros pontos do país.
INÊS FARSOLA
Em ‘Inês Farsola’, a pintora feirense reinterpreta as venturas e desventuras de uma mulher (Inês Pereira da Grã) oriunda da classe média portuguesa do séc. XVI, apreendendo ela própria alguns dos momentos mais marcantes daquela que é consensualmente entendida como a obra mais marcante de Gil Vicente.
A mostra – PAX.04 | INÊS FARSOLA – que a autora define como ‘fragmentário (in)submisso’, está organizada com rigidez sequencial, de modo a transmitir ao observador o desenrolar da reinterpretação do enredo que o genial ‘fundador do teatro português’ desenvolveu, em resposta ao repto que os detratores lhe lançaram, através do mote ‘mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube’.
Entre telas e objetos tridimensionais, há vinte e seis obras iniludivelmente reveladoras do estilo peculiar de Débora Pax. Para apreciar e fruir.