Tendo vivido o fim da ditadura e acompanhado o desabrochar do presente Regime Democrático, nunca imaginei que a ética política pudesse descer tão baixo, ao ser prendada com espectáculos degradantes na praça pública. Esta apreciação é manifestada na generalizada pelos cidadãos que se preocupam com a falta de valores nas práticas políticas.
Nos primeiros tempos da democracia, alguns políticos faziam propostas onde apresentavam medidas políticas, tão absurdas e tão demagógicas que passavam para o reino das anedotas. Com o devido respeito por esta comparação, a qual refuto de muita seriedade, recordo dos tempos da minha juventude, uma célebre anedota que caricaturava os políticos, que prometiam tudo a todos e que continua com muita actualidade:
“Decorria um importante comício de um ambicioso político, que entusiasmado com o fervoroso ambiente que sentia na multidão, após várias promessas demagógicas, jurou convictamente, que se ganhasse as eleições, o povo iria estar doze meses sem trabalhar!… Fortemente aplaudido, um dos presentes que estava longe do palco e que não ouviu bem, perguntou a um amigo que estava ao lado: – O que é que ele disse para ser tão aplaudido? O amigo respondeu: “Se ele ganhar, vamos estar 12 meses sem trabalhar” Ah sim, diz ele, para de imediato perguntar… e quando é que eu gozo as férias?
Feita esta alegórica introdução e regressando ao tema em apreciação, hoje mais do que nunca, os cidadãos devem exigir aos partidos, seriedade, racionalidade e justiça social nas promessas eleitorais que fazem aos eleitores. Coincidindo com o ”Carnaval”, aproxima-se uma campanha eleitoral, onde algumas das promessas anunciadas vão ao absurdo do “dar tudo a todos”. Todavia, pela positiva, também são anunciadas medidas responsáveis e racionais. Como tal, vejamos o que se está a passar e nada melhor como citar alguns exemplos que dominam a política portuguesa:
- De um partido Radical de extrema-direita, é-nos prometido, caso esse partido consiga ser governo, que a pensão mínima dos reformados será igual ao salário mínimo nacional. A irresponsabilidade desta medida irracional não pode merecer qualquer credibilidade, devendo este partido ser rejeitado veemente pelos eleitores.
- De um partido de direita democrática, com vocação governamental, é-nos prometido aumento substanciais nas pensões dos reformados de forma equilibrada. Esta promessa eleitoral é merecedora de ser avaliada de forma séria e racional. Ainda dentro desta área partidária, pela positiva, um responsável político de um concelho vizinho, assume de forma inequívoca a reversão imediata das Freguesias que foram agregadas contra a vontade das suas populações e cujos pedidos aguardam na Assembleia da República a sua apreciação.
- De um partido de centro-esquerda, com aspiração em continuar a ser governo, é-nos prometido resolver a presente injustiça salarial na carreira dos professores. Esta medida merece “um grande aplauso”, pois a sociedade reconhece que além de injusto, não é moralmente aceitável, que um professor no início de carreira receba cerca de metade do vencimento de um professor que está no topo da carreira… Esta situação é inaceitável porque fere o princípio de salário igual para trabalho igual! Além disso, os professores em início de carreira a sua estabilidade do local de trabalho é precária, pois ano após ano anda com a casa às costas. Esta realidade além de muitos transtornos de estabilidade familiar para quem está em início de construção de família, fica ainda sujeito os custos de deslocação e alojamento quando recebe salário mais baixo… Estas razões, penalizam a carreira docente que pode ser corrigida com subidas substanciais nos vencimentos dos professores em início de carreira. Assim se consegue reduzir a diferença abismal, com os professores que estão no topo da carreira. Em linguagem popular, nada mais justo, do que “nivelar por cima, os valores dos escalões de vencimentos dos professores em início de carreira”. Esta promessa eleitoral merece ser apoiada pois é séria, racional e justa.
A menos de dois meses de eleições legislativas, pede-se patrioticamente aos partidos, em especial aos que podem ser governo de Portugal, que apresentem com seriedade propostas eleitorais racionalmente justas, que tranquilizem os portugueses.