No próximo dia 10 de março, os portugueses deslocar-se-ão às urnas para escolher os seus representantes no Parlamento Nacional e, desse modo, permitir a formação do XXIV Governo Constitucional da República Portuguesa. Os eleitores de Santa Maria da Feira, o mais representativo município do círculo eleitoral do distrito de Aveiro, previsivelmente contribuirão para a eleição de dois dos nossos concidadãos: Emídio Sousa pela AD e Susana Correia pelo PS.
Esta é uma eleição que decorre num momento em que a imagem da classe política se encontra chamuscada por consecutivos casos judiciais, cujas ondas de choque poderão redundar num cenário de ingovernabilidade. Os tempos são, por isso mesmo, conturbados e exigem responsabilidade de todos os envolvidos. Responsabilidade e decoro. Ora, Emídio Sousa parece disposto a mandar tanto uma como outra às urtigas, graças a comentários a roçar a hilaridade ou a desfaçatez; o disparate é tão evidente para quem o escuta que chega a duvidar se o objetivo não será mesmo gozar com o ‘pagode’.
Caro(a) Leitor(a), preste atenção à seguinte declaração, proferida por Emídio Sousa, em frente dos jornalistas: “São demasiados anos do PS, que significam demasiados maus hábitos.” A piada faz-se sozinha…
Emídio Sousa deixa-me preocupado. Não só se está a dar ao luxo de desrespeitar o mandato que os feirenses lhe conferiram há pouco mais de dois anos, quiçá por não se puder recandidatar à edilidade local, como ameaça levar para Lisboa os “maus hábitos” que por cá adquiriu, ele próprio, ao longo de duas décadas de exercício ininterrupto de poder. Sinto-me preocupado porque, por lá, não poderá esquivar-se às interpelações que lhe lançam. Por lá, terá mesmo de responder, nos prazos legais, às questões de interesse público que lhe são dirigidas. Por lá, a imprensa terá os recursos para escrutinar o seu desempenho e a visibilidade para divulgar os resultados. Por lá, as meias respostas, as respostas falsas ou as não respostas não ficarão impunes. Por lá, não terá a proteção do anonimato. Também não terá uma maioria que lhe garanta sempre e em qualquer circunstância a aprovação de tudo e mais um par de botas. Sinto-me preocupado, porque Emídio Sousa ficará, após todos estes anos, fora de uma redoma que sempre o protegeu das suas fragilidades políticas. Esta declaração é um sinal disso mesmo e não augura nada de bom.
Caro(a) Leitor(a), Emídio Sousa integra um partido que governa Santa Maria da Feira desde 1976. Os problemas que daí decorrem são por demais evidentes, desde logo pela confusão reinante entre aquilo que é entendido como o interesse municipal e o interesse do PSD, cujo exemplo acabado é a ascensão de funcionários municipais à categoria de políticos com funções executivos ou a integração destes nos órgãos do partido. Emídio Sousa sabia disso e nada fez para contrariar. Muito pelo contrário.
A gestão política do orçamento, em função dos interesses locais, também foi uma realidade nos seus mandatos. Os fregueses nunca foram todos iguais, muito menos se pertencessem a uma Junta de Freguesia liderada pelo PS. Assim que a “gestão orçamental” garantia o derrube de mais uma Freguesia adversária em prol do partido do regime, logo se desbloqueavam os projetos e os recursos até então invariavelmente parados. Assim se foram condicionando primeiro os autarcas e depois os fregueses…e mais uma vez, Emídio Sousa sabia disso e nada fez.
Emídio Sousa liderou uma organização que acentuou o proselitismo em torno de si e do seu Executivo, a expensas dos recursos públicos. Vivem do exercício de funções públicas a tempo inteiro, têm o privilégio de executar um orçamento superior a 100 milhões de euros a seu belo prazer e ainda necessitam de juntar a isto tudo uma equipa de marketing e comunicação que, uma vez mais, trabalha para eles (apenas para eles!) e não para o Município. A soberba é tanta que nem se apercebam do absurdo. Emídio Sousa sabe disto e dorme descansado, apesar do abuso e desproporção de meios (públicos!) utilizados contra os seus adversários.
Emídio Sousa, lá no fundo, reconhece uma significativa diferença entre aquilo que fez e aquilo que devia ter feito. Critica a carga fiscal no país, mas não baixa os impostos municipais. Critica a falta de investimento público no país, mas não executa os investimentos municipais programados. Crítica os salários auferidos pelos trabalhadores nacionais, mas no seu território aufere-se menos do que a média nacional e do que a média regional. Fala de incompetência dos governos socialistas, mas concebeu o IV aditamento da Concessão com a Indaqua com sérios prejuízos para os consumidores feirenses. Enfim, considera “demasiados” os anos de Governação do PS no país, ficando por esclarecer que adjetivo utilizaria Emídio Sousa para rotular os anos do PSD à frente da autarquia feirense.
Sinto-me preocupado com Emídio Sousa. Ele sabe que ‘não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe’, pelo que devia ter cuidado e resguardar-se. Quanto maior for a intensidade da luz emitida pelos holofotes, maior e mais intensa tenderá a ser a respetiva sombra.