O estranho caminho seguido pela SAD do CD Feirense ameaça futuro do clube
Opinião

O estranho caminho seguido pela SAD do CD Feirense ameaça futuro do clube

Os estranhos caminhos que a maioria das (SAD’s) – Sociedades Anónimas Desportivas estão a seguir no futebol português são motivo de grandes preocupações para o futuro dos nossos clubes.

Em Portugal, a função dos Clubes, (entidades portadoras de utilidade pública), tem perdido importância existencial, estando a tornar-se em figuras decorativas, ao demitirem-se da responsabilidade social da missão de serviço de utilidade pública, permitindo que os seus principais interesses seja a negociação de jogadores de futebol e seus empresários. Os sócios e simpatizantes destes clubes, deixaram de ser os seus rostos, passando a ser meros assistentes de bancada, dado que o seu património histórico imaterial foi cedido/vendido a “estranhos”. O sentimento de pertença e paixão pelo seu clube, está a desaparecer visto que os verdadeiros interesses desportivos do clube ficam para 2º plano.

Esta identidade desportiva de pertença, que se expressa de forma única no futebol, não pode ser desbaratada por estranhos agentes, que se apoderam de muitos clubes, aproveitando-se da ingenuidade e impreparação dos seus dirigentes. Nos últimos 20 anos, a classe dirigente de muitos clubes, iludiu-se com a criação da SAD,s, vendo nelas a galinha dos ovos de ouro. Porém, essa ilusão levou ao rápido desaparecimento de muitos clubes. São inúmeros os casos de desastres desportivos e financeiros, que ocorreram em Portugal, levando esses clubes à falência. Estes péssimos exemplos, são reveladores de uma transformação perigosa e imparável que está a acontecer no Futebol de hoje. Foram notícia os casos que atingiram o Estrela Amadora, Boavista, União da Madeira, Salgueiros, Alverca, Tirsense, Felgueiras, União de Leiria, Beira- Mar, Olhanense, V. Setúbal, Desportivo das Aves, Atlético, Clube Futebol. “Os Belenenses”, Vilafranquense etc. que provocaram prejuízos desportivos e económicos a nível regional, sem esquecer que famílias inteiras perderam o seu sustento. Por seu lado, os adeptos perderam ou correm o risco de perder o seu clube do seu coração. Paramuitos, desapareceram as grandes tardes de futebol, onde esses adeptos apoiavam apaixonadamente o seu clube como se estivessem dentro de campo, a jogar ao lado deles. Sentiam orgulho em serem chamados “O 12º jogador” do clube.

Chegados aqui, pergunta-se: Perante estes desastres desportivos, será que os responsáveis pelos interesses do Desporto em Portugal não alertam os clubes para o perigo em ceder a maioria do controle do clube às SAD,s? Ou será que ninguém está interessado em regular este modelo de gerir desnorte no Futebol, porque vai mexer com interesses instalados que gravitam no mundo do futebol? Há quem diga que mexer com esses interesses, seria como mexer num ninho de vespas…

Apesar destas polémicas constatações, a ideia das SADs, parece boa, mas o problema está quando adulteram os objetivos iniciais, particularmente quando o controle da SAD,s deixa de estar nas mãos dos clubes. Ao contrário, quando o clube é acionista maioritário, é ele que decide. Além disso, o modelo de funcionamento das SADs, deveria responsabilizar mais os seus dirigentes.

Deslocando esta reflexão para o CDFeirense, é notória a instabilidade existente no seio da família Feirense. Assiste-se a uma degradação desportiva deste Clube, por aqueles a quem foi entregue os seus destinos, quando desprezam o seu passado histórico passando por cima dos seus adeptos. Como sócio, considero inaceitável, que a função social do CDFeirense, clube com o estatuto de utilidade pública, tenha sido mandada para as “Malvas”. Actualmente, os miúdos para poderem praticar futebol, têm que pagar mensalidade, equipamentos, etc. Desta forma, fica comprometida a importante função social do clube, penalizando a prática desportiva, que devia ser uma escola de valores acessível a todos os miúdos, independentemente da sua condição social.

A Formação do CDFeirense que está sob a responsabilidade da SAD, tem apresentado resultados muito pobres. Épocas consecutivas sem que os Seniores tenham aproveitado para os seus quadros, qualquer jogador vindo da Formação. Pergunta-se porquê? Nos últimos 5 anos, tive a oportunidade de acompanhar de perto esse processo de Formação no CDFeirense. A Formação do Clube até aos escalões do sub-17, tem tido um “resultado excelente”. A partir do sub-19, cuja Formação é da responsabilidade da SAD, os resultados “são desastrosos”!.. Sem entrar em explicações detalhadas e de forma sintética, conclui-se que: “Falta um projeto de transição dos jogadores dos sub19 para a categoria de seniores”, ou seja, sente-se a falta da criação de uma equipa B, que dê esperança de futuro aos atletas que queiram optar pela formação nas camadas jovens do CDFeirense. Obviamente, que na ausência desse projeto de transição, os jovens que fazem uma excelente formação de base, mas chegados aos sub-15 e sub-17, abandonam o CDFeirense e vão para clubes, onde têm essas condições de continuidade de prática desportiva pós sub-19.

Concluindo, estamos perante um trabalho medíocre da SAD na Formação do CDFeirense, porque o seu principal interesse é servir-se do Clube para fazer “negócios de empresários/ jogadores”, deixando para segundo plano os resultados desportivos da Formação. Assim se explica a recusa em ter a equipa B, pois os seus custos não são considerados um investimento, mas sim um prejuízo!…

O CDFeirense, clube centenário, tem que exigir à sua SAD, respeito pelo seu prestigiante passado desportivo, tendo em atenção nos perigosos sinais que pairam no ar e que indiciam acontecimentos semelhantes aos que recaíram sobre os clubes cima referidos. Acorda CDFeirense!…

Assine agora
António Cardoso

Antonio Cardoso
COLUNISTA
    X