Um génio incompreendido
Opinião

Um génio incompreendido

“É preciso que tudo mude para que tudo se mantenha”, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, in Il Gattopardo

Em Santa Maria da Feira, o paradoxo de Lampedusa foi adaptado para: “é preciso mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma”.

A mudança de presidente da Câmara poderia ser uma mudança do sistema que governa a Feira há mais de 40 anos e isso foi o que aconteceu.

Os projetos ao longo dos anos foram muitos. As más-línguas poderiam lhes chamar utópicos, mas na realidade não foram executados pela simples razão de serem irrealizáveis.

Emidio Sousa apresentou vários projetos marcantes. Muitos deles colocaram Santa Maria da Feira como um Concelho empreendedor no que diz respeito à criatividade e imaginação:

– A proposta da abertura do Aeroporto de Maceda à aviação civil;

– Um Metrobus a ligar Santa maria da Feira diretamente ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro do Porto;

– Uma estação para o comboio de alta velocidade.

Foi preciso mudar algo para que tudo ficasse igual e ficou.

Amadeu Albergaria reforçou a ideia da estação no Europarque, mas limou as arestas.

Escudado com a possibilidade na nova ligação ferroviária poderem circular o Alfa-Pendular e até o Intercidades, defendeu uma estação na Feira.

Prometeu ligação a outras formas de transporte e respetivos parques de estacionamento.

Não posso deixar de concordar com tal ideia. Como todos sabem quem utiliza o Alfa-Pendular e entra no Porto quer sair na Feira para apanhar de seguida o Vouguinha. O desejo do passageiro é sair de um comboio de 200km/h para um de 20Km/h.

Depois, como é mesmo ali ao lado, seguir para a estação de camionagem de Lourosa a que deram o nome de intermodal. Como sabemos uma estação com tal nome quer dizer que liga vários sistemas de transporte. Falta, como é obvio a ligação ali a outros transportes, mas isso é um pormenor mais destacados por gente mesquinha com vistas curtas.

Acredito que uma grande maioria dos feirenses apoia e percebe esta estratégia de comunicação utilizada pelo executivo camarário.

Como é mais que obvio não se trata de delírios mediáticos ou tentativas de publicidade gratuita ao atual presidente de Câmara.

Estes projetos que vão a sendo apresentados são apenas peças de um gigantesco quadro que nem todos têm a capacidade de entender. Um quadro que no final dará uma belíssima obra de arte surrealista.

O pintor é bom, mas o público é que não o entende ou seja: um génio incompreendido.

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Daniel João Santos
COLUNISTA
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