Tânia Valente é natural de Souto, Santa Maria da Feira. Viveu até aos 15 anos na Suíça, idade em que decidiu ir atrás do sonho, em Portugal. Aos 28, é dona do seu próprio espaço dedicado à sua grande paixão, os animais
Desde cedo que os interesses de Tânia Valente estavam bem vincados: “A minha primeira palavra nunca foi mamã ou papá, foi cão”, confessa, entre risos. Assim que concluiu o ensino secundário, a escolha parecia evidente. Numa “pesquisa breve”, descobriu a área de auxiliar de veterinária no Hospital Veterinário do Porto, mas, devido ao seu espírito curioso, continuou a investir na área.
Após uma ‘luta’ de anos com o pai, foi aos 18 que conseguiu o seu primeiro cão — Lord, um pastor alemão. Foi com ele que decidiu começar uma formação como educadora canina, tinha ele ainda três meses. “É um cão que por si já gosta de aprender, então é muito mais fácil. Comecei pelo básico e, como via que ele ia correspondendo, fui progredindo”, confessa a jovem com um brilho no olhar.
Durante vários anos exerceu a profissão de auxiliar, passando pela Clínica Veterinária do Campo Alegre, a Vet Foz e, alguns anos mais tarde, a Clínica Veterinária da Arrifana. Mas ainda não era assim que se sentia realizada. “Não era no contexto de não querer trabalhar com animais, porque adorava estar na cirurgia, no internamento, no atendimento ao cliente, mas sim ao nível de também ter tempo para mim”, salientando a importância de estar bem para se cuidar bem do outro.
Para a maioria dos animais, as idas ao grooming nem sempre são animadas, mas, devido à formação da groomer, confessa que consegue trabalhar com qualquer tipo de animal em termos de comportamento. “Um ponto muito importante que tenho vindo a ficar muito grata é o facto de, como tenho o curso de treinadora, conseguir ler muito bem a linguagem corporal de um cão. Um cão nunca morde do nada, dá sempre sinais, e já na clínica comecei a trabalhar com animais que eram sedados e nunca mais o foram… é preciso é paciência e fazer as coisas gradualmente”, admite.
“O grooming é uma arte”
“O grooming não é só dar banho e cortar o pelo, como muitas pessoas acham. O grooming é uma arte”, diz com uma certa tristeza por muitas vezes não ver o seu trabalho reconhecido. “Já tive clientes que acharam o serviço caro. Fizeram em casa e perceberam que afinal não era assim tão fácil e acabaram por voltar”. Não existe limites nos animais que o ateliê localizado em Souto, Santa Maria da Feira, pode receber, e Tânia salienta mesmo a importância desses cuidados com os animais. “O grooming é saúde, ou seja, é uma limpeza higiénica muito importante, tanto para os animais que estão regularmente no interior, como os que estão no exterior. Evita várias doenças para os mesmos”.
Numa época em que tudo estava a fechar portas, devido a um difícil período pandémico, Tânia decidiu largar o emprego estável que tinha na clínica e ir atrás do seu propósito de vida. Abriu o seu espaço, debaixo de sua casa, e aos poucos o negócio foi expandindo. Recebe clientes de Braga, Porto, Arouca, Oliveira de Azeméis e está certa de “quem gosta, volta sempre”. Os valores dos seus serviços variam entre os 15 e os 75 euros, dependendo do tamanho, peso, raça, estado do pelo, entre outras condicionantes. No entanto, não é só com os animais que o trabalho é feito. “Faço questão de explicar aos meus clientes, principalmente aos novos, que deve haver escovagem regular, um controlo das unhas, entre muitas outras coisas. O truque é não deixar chegar a um estado mau”, afirma.
A escolha pelo local sempre lhe pareceu óbvia. Para além de ter espaço em casa e conseguir juntar o útil ao agradável, foi o facto de não existir nada do género pelas proximidades. “No entanto, abriu recentemente uma clínica veterinária no centro de Souto, mas nunca me deixou com receio a nível de trabalho. Sou fiel a mim mesma e sei que os meus clientes, se tiverem de vir, vêm até mim”, confessa a jovem empreendedora que já conta com três anos de ateliê.
Já relativamente à construção do Hospital Veterinário em Santa Maria da Feira, Tânia congratula a iniciativa “Fiquei muito feliz, sinceramente. Não tínhamos nada na zona, só o Hospital Veterinário das Travessas, e onde nem sempre tinham certos serviços que os cães precisavam, como um TACO; era sempre recomendado para o Porto e pelo que ouvi o Hospital [da Feira] vai ter mesmo tudo e é muito bom para a nossa zona, porque se é preciso uma urgência, temos um ponto mais perto.”
Gratidão é a palavra que define os últimos anos da groomer, que espera que os clientes continuem a surgir e acima de tudo, que o cuidado com os animais sejam cada vez mais regular.