A saúde mental da nossa região está doente, pois não existe serviço de urgência no CHEDV
Opinião

A saúde mental da nossa região está doente, pois não existe serviço de urgência no CHEDV

Ter saúde é sentirmo-nos bem connosco próprios e na relação com os outros. A saúde mental e a saúde física são fundamentais na nossa saúde. Trabalhos científicos na área da saúde, estimam que em cada 100 pessoas, 30 sofrem, ou podem vir a sofrer durante a sua vida, de problemas de saúde mental. Dentro das variadas formas como a doença mental se manifesta, destaca-se a ‘depressão’ como doença mental mais frequente e que mais incapacidade provoca nas pessoas. Convém não esquecer AINDA que em cada 100 pessoas, constata-se que uma sofre de ‘esquizofrenia’.

A saúde mental é antes de mais uma questão de saúde pública. A promoção da saúde e a prevenção da doença, são um investimento decisivo nesta área, nomeadamente nos escalões etários mais jovens. Portugal aparece também como sendo dos países da União Europeia em que o consumo de ansiolíticos e de antidepressivos é muito elevado. A saúde mental de uma população não depende apenas de se ter bons serviços de saúde de psiquiatria, bem pelo contrário, depende de boas soluções económicas e de apoios sociais e económicos, dados os bons resultados obtidos em situações de crise. Portanto, para que esta realidade mude é necessária uma transformação reformadora do modelo até agora seguido.

Há mais de 20 anos, que se fala numa reforma para a Saúde Mental em Portugal. As medidas hoje preconizadas exige a existência de um eficaz enquadramento legal da saúde mental que permita que a implementação do PRR, seja bem-sucedido e que os modelos de assistência e gestão dos serviços, sejam alvo de uma mudança profunda, que contribua para o desenvolvimento de uma sociedade inclusiva, onde as pessoas com doença mental possam usufruir de uma cidadania plena.

Um sistema legislativo e assistencialista, apresenta muitas falhas, nomeadamente em termos de direitos humanos, de abordagem dos doentes, no acesso aos cuidados de saúde mental, hoje comprovadamente fracassado. Não podemos continuara a assistir a fugas de doentes psiquiátricos das urgências dos hospitais. São pacientes considerados “especialmente vulneráveis”, mas tratados estranhamente pelas unidades hospitalares a quem se exige mudanças profundas. As demoras no atendimento, enganos nos procedimentos, desabafos, queixas e lamentos, causam protestos reclamados pois tudo continua na mesma. Os doentes psiquiátricos, são pacientes que podem pôr em risco a sua própria vida e a de outros.

Concretizando, acompanhei pessoalmente o caso do cidadão C.M., que padece da doença de ‘esquizofrenia’, tendo no mesmo dia fugido duas vezes do serviço de urgência do Hospital S. Sebastião sem que alguém ficasse muito preocupado!!! Entretanto, ficou-se a saber que não existe serviço de urgência em psiquiatria. Esse serviço só existe no Porto no Hospital de S. João!!!!  Como cidadão do Entre Douro e Vouga, ouso perguntar: “onde está a nossa apregoada Centralidade Regional na Saúde, quando não existe serviço de urgência em Psiquiatria no CHEDV?

 Este testemunho é uma prova inequívoca que a saúde mental está doente na nossa região. Muitas outras situações infelizmente estão presentes no nosso quotidiano. A saúde mental não pode ser só uma responsabilidade exclusiva do Ministério da Saúde, tem de ser de todo o Governo e da própria sociedade, psiquiatria ou dos seus profissionais, mas sim de um governo, devendo integrar as políticas de educação, trabalho e segurança caso contrário iremos ter problemas muito sérios no futuro.

Por último, o apoio e a reabilitação psicossocial a esses doentes mentais, passa por proporcionar uma resposta de habitação, aspecto fundamental no processo de reabilitação Psiquiátrica e na prevenção da institucionalização, promovendo a convivência dentro de um grupo pequeno, mais adaptado e com inserção o mais possível na comunidade. A sociedade através das autarquias, das IPSS, precisam de ser mobilizadas para esta realidade, através de incentivos motivadores, aplicados em projetos de solidariedade social, que visem a saúde mental. A criação de estruturas de apoio através de acordos de cooperação com os serviços da segurança social, permitir garantir apoio moderado e residência autónoma de saúde mental, ao abrigo da legislação em vigor, onde os utentes são inseridos de acordo com seu grau de autonomia. Existem em Portugal bons exemplos, mas infelizmente são “muito raros”. Concluindo, apela-se que a sociedade passe a seguir essas boas práticas.

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António Cardoso

Antonio Cardoso
COLUNISTA
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