Quando se descobriu que informação era um negócio, a verdade deixou de ser importante.
Ryszard Kapuscinski
Não direi adeus!
Não era este o último texto que tinha imaginado escrever para o Correio da Feira, não era este o fim que imaginei para uma relação de quase dez anos… 127 anos, seis meses e 25 dias depois, o Correio da Feira suspende as suas edições por tempo indeterminado, por decisão da sua administração. Uma decisão ponderada há muito, que advém, em grande parte, dos muitos problemas que assolam a maioria da imprensa nacional e internacional.
O jornalismo fica mais pobre — com defeitos, aprendizagens, margem para crescer, fizemos, com escassos recursos, jornalismo sério e a sério —, Santa Maria da Feira também — somos, há alguns anos, o único jornal que cumpre a missão, além de divulgação do que melhor (e muito) por cá se faz, também a de escrutínio, pois a democracia local não se esgota nos periódicos atos eleitorais. Nunca contra ninguém, mas apenas pelos feirenses.
Ainda assim, mesmo com um nó na garganta, escrevo com orgulho. O Correio da Feira certamente podia ainda fazer melhor, mas acredito que ganhou o respeito de todos os feirenses. Essa foi a maior vitória desta equipa. Ganhámos prémios, regionais e nacionais, mas, acima de tudo, como disse um ex-presidente da Câmara Municipal, o Correio da Feira tornou-se e é o jornal de referência do território. Vivi o sonho de criança, tive a oportunidade de exercer a profissão por qual me apaixonei, com dedicação, ética e profissionalismo. Tornei-me melhor jornalista, aprendi muito com os meus antecessores e colegas de profissão, liderei, o melhor que soube, pessoas que admirarei para a vida.
Não direi adeus!
A todos os que partilharam connosco esta caminhada, mas também aos que nos antecederam, antigos funcionários, assinantes, leitores, entrevistados, colaboradores, dirigentes associativos e desportivos, políticos, parceiros comerciais, funcionários e todos os feirenses em geral, direi muito obrigado.
No entanto, quero deixar um especial agradecimento à atual equipa composta pelo Marcelo, Carla (que caminharam lado a lado comigo em praticamente todo o tempo que exerci funções no Correio da Feira), aos mais recentes, mas não menos importantes Márcia e Vítor. Foi um prazer e um orgulho enorme ter trabalhado com todos. Uma palavra de agradecimento também para os administrados Paulo Fonseca e Jorge de Andrade. Começou por ser uma relação profissional, terminou em admiração, respeito e sincera amizade.
Gabriel García Márquez disse uma vez que “a ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”. Numa profissão que vive num longo e permanente estado de emergência — maltratada por quem não faz a menor ideia do que ela representa e da sua importância, mas também, lamentavelmente, por vezes, por quem dela vive —, não sei se terei a oportunidade de voltar a exercer a profissão que tanto me apaixona, mas certamente continuarei a escrever e a seguir este caminho que é a vida com o ‘zumbido do besouro’ ao meu ouvido. Assim…
Nunca direi adeus!
Mas sim… Até sempre.