Nuno Joel Rocha. Presidente da Junta de Freguesia de Romariz
O engenheiro civil, de 43 anos, secretário do anterior executivo da Junta de Freguesia (JF) de Romariz, liderado por Anacleto Costa, concorreu às Autáqruicas’21 e venceu as eleições com larga margem para a segunda força política mais votada, PS, aumentando de cinco para seis o número de membros do PSD na assembleia de freguesia.
Do primeiro ano de mandato, Nuno Joel Rocha faz um balanço “positivo”, admite “que há muito para fazer”, mas garante também que “muito já foi feito” e promete “muitas alegrias” para a Freguesia nos próximos três anos. Entre essas “alegrias”, o presidente da JF de Romariz espera que esteja a requalificação do Castro de Romariz e a criação do centro interpretativo, uma pretensão que, neste momento, está dependente de “sondagens arqueológicas”.
Nuno Joel Rocha abordou ainda outros temas importantes da Freguesia, como o estado das obras de construção da nova USF de Romariz e da criação de passadiços, e apontou a escassez de recursos humanos e financeiros como um handicap à resolução mais célere de problemas.
CF – Porque decidiu candidatar-se?
Nuno Joel Rocha – Pelo amor pela Freguesia. Comecei como secretário, experienciei o envolvimento com as pessoas e a vontade de fazer mais pela minha terra. Vem também do meu pai, que nunca foi político, mas teve sempre muito ligado à Freguesia. O convite chegou diretamente do presidente da Câmara, Emídio Sousa, e aceitei sem hesitar.
As eleições das Autárquicas’21 distam de quase ano e meio, com a sua candidatura (PSD) a alcançar a vitória com mais percentagem e votos, e mais um membro na assembleia de freguesia, comparativamente com 2017. A esta distância que análise faz aos resultados eleitorais?
Os resultados foram bons e não estava à espera de que fossem tão favoráveis. Acredito que há expetativas nesta equipa jovem e não queremos desapontar. Estamos a fazer tudo para que as pessoas possam ficar agradadas com o nosso trabalho.
Era secretário do anterior executivo. Pode-se considerar este um mandato de continuidade?
Há um mandato de continuidade. Muitos dos trabalhos que estão a ser desenvolvidos neste mandato foram pensados e projetados no anterior. Algumas obras que estão a ser, neste momento, realizadas foram idealizadas pelo mandato anterior. Agora, começam a surgir novos projetos e ideias, que espero concretizar neste mandato.
Do ponto de vista financeiro, que Junta de Freguesia encontrou?
Com as contas equilibradas. Houve um cronograma financeiro, da parte do anterior executivo, em não deixar as contas defraudadas. Chegámos e tínhamos tudo liquidado. Não tínhamos dívidas com nenhum fornecedor. Não começámos com um estofo financeiro grande, mas é equilibrado.
Programa eleitoral
No seu programa eleitoral, assim como no plano e orçamento municipal para 2023, consta a construção da nova USF de Romariz? Qual a previsão para o início dos trabalhos?
Neste momento, está mesmo na fase de término da revisão do projeto. Espero até à Páscoa lançar a USF a concurso público, para podermos, ainda este ano ou no próximo, começar a obra.
Em que estado está a construção da rotunda no cruzamento da Variante?
Temos 80% dos terrenos adquiridos, falta-nos unicamente três parcelas de terreno, em que duas vamos fazer as escrituras em fevereiro, ficando a faltar uma parcela. A parcela que nos falta vai ser muito difícil conseguirmos porque a proprietária não prescinde da mesma, para fazer a execução de passeio. Mas também essa parcela não vai inviabilizar a construção da rotunda. Espero até ao verão poder lançar a obra a concurso para, tal como a USF, também a conseguirmos executar antes do final deste mandato.
Haverá alguma requalificação da EB1?
A requalificação das escolas está ao encargo do vereador. Não há nenhuma obra de grande vulto projetada para a EB1. Há sim pequenas intervenções que vamos fazer, nomeadamente arranjos da cobertura ou em algumas paredes que estão a deixar entrar humidade. Obras de grande envergadura não estão previstas. A escola encontra-se em boas condições.
O ex-líbris da Freguesia é o Castro de Romariz. Está prevista a sua requalificação e a construção de um centro interpretativo. Em que ponto está o tema?
O projeto estava para análise técnica da Cultura. Houve uma notificação de que teremos de fazer prospeções arqueológicas na implantação do centro interpretativo, ou seja, de acordo com informações que obtive da Câmara Municipal, vai ser lançado brevemente um concurso para a realização das referidas sondagens, para aferirmos se existe algum achado arqueológico na implantação do edifício. Se não existir, o processo vai terminar de licenciamento do projeto. É uma obra que gostaríamos de ver ser executada o mais rápido possível, mas sabemos que tudo o que envolva arqueologia demora algum tempo.
O que está previsto na requalificação do Castro de Romariz?
A requalificação será de rede viária, portanto, infraestruturas, redes hidráulicas e elétricas, passeios, o projeto será todo em calçada portuguesa, de acordo com a época e também o centro interpretativo e os acessos ao Castro.
Espera-se que haja evolução do projeto ainda em 2023?
Gostava que assim fosse, mas não depende apenas da Câmara ou da Junta. A informação que temos para a aprovação do processo de licenciamento é que terão de ser feitas as tais sondagens arqueológicas. Também calculamos que as sondagens não sejam muito demoradas, mas não posso assegurar prazos. Tudo o resto está preso por este detalhe porque o projeto engloba tudo e tem de ter a aprovação do Ministério da Cultura.
A requalificação é fundamental também para uma melhor promoção e divulgação do Castro de Romariz.
Temos o ‘Regresso às Origens’ que é um evento que está a promover, e muito bem, a Castro. Cada vez temos mais visitas e mais pessoas interessadas. Há também uma divulgação da Junta e das associações. E esta obra vai certamente trazer-nos um know-how muito grande para o Castro de Romariz. É justo referir também o esforço feito pelo anterior executivo da Junta de Freguesia, pelo [ex-]presidente Anacleto Costa, e Câmara Municipal, na compra dos terrenos para o alargamento do Castro de Romariz.
Explique mais detalhadamente o projeto ‘Regresso às Origens’.
É um evento anual realizado pela associação Voltado a Poente, de recriação histórica das vivências do povo que habitou o Castro de Romariz [povoado fortificado datado do século V a.C. com níveis de ocupação até ao século I d.C.]. Agora, a Junta de Freguesia também vai ter um papel fundamental porque a associação não consegue englobar a dimensão que o evento está a alcançar. Vamos ajudar a Voltado a Poente e a Câmara também nos tem ajudado. O evento não tem uma data fixa, o ano passado por causa dos incêndios tivemos de alterar a data, mas é em setembro. Essencialmente este evento foi criado para divulgar o Castro de Romariz. Há pouco tempo ainda havia muitos feirenses que desconheciam o Castro, que está muito escondido. Quem chega ao Castro encontra uma estação arqueológica não abandonada — está entregue ao Convento dos Loios, à associação Voltado a Poente e à Junta de Freguesia de Romariz —, mas sabemos que as condições de acessibilidades são más. Em breve, teremos a requalificação e o centro interpretativo, como tanto esperamos.
Na área da saúde e bem-estar é objetivo a criação de passadiços ao longo dos rios que nascem e atravessam Romariz.
É verdade. Sabemos que é um trabalho de campo da Freguesia. É uma pretensão nossa para 2023, aliás vamos começar já com a ligação da zona envolvente a Mouquim à Praia Fluvial da Mâmoa, em Milheirós de Poiares. Já se iniciaram as conversações com a Junta de Freguesia de Milheirós de Poiares e é nossa pretensão fazer, em 2023, a marcação deste trilho e, se possível, ter a passagem de passadiços. Romariz é muito rica em recursos naturais, tem três rios, um que é dos mais importantes do Concelho, o Uíma, que nasce no lugar de Duas Igrejas, em Romariz. Sabemos que é uma necessidade urgente fazermos esta ligação de Romariz a Pigeiros e a intenção é começar o projeto neste mandato. A Câmara Municipal também está interessada em pegar e nos apoiar nesta questão.
Têm sido realizadas algumas obras em estradas. Estão inseridas em alguma das fases mais recentes de requalificações de estradas da Câmara Municipal?
Romariz foi englobado na 9.ª fase, quanto à 10.ª fase o concurso está na Câmara. Temos a lista de ruas pedidas e o projeto vai a concurso para se fazerem as pavimentações. No caso de Romariz serão cerca de 12 ruas. Alguns trabalhos que estão a ser realizados nada têm a ver com essas fases, concretamente a requalificação do pavimento da rua das Escolas e a rua do Castro, em parceria com a Câmara.
A população do lugar de Duas Igrejas apresenta algumas queixas e reclama maior atenção.
Romariz, salvo erro, sem agregação, é a terceira maior freguesia, em área, do Concelho. A população não está concentrada, o que dificulta muito o nosso trabalho. Temos também um corpo técnico composto por três funcionários que para uma freguesia desta dimensão é escasso. Tentamos não deixar nenhum lugar para trás. Duas Igrejas é um lugar pelo qual tenho um carinho especial, pois foi onde passei parte da minha juventude. Ainda no final do ano, fizemos limpeza a todas as ruas, no mandato anterior fizemos o arrelvamento das rotundas, temos feitos alguns arranjos na Igreja e um acesso para pessoas de mobilidade reduzida. E vamos fazer mais obras na igreja de Duas Igrejas. Portanto, Duas Igrejas não está esquecido, nem há nenhum lugar que pensemos que esteja esquecido. Há uma proximidade grande entre este executivo e as pessoas. Temos intenção de chegar a todos.
O que tem sido executado nas áreas do associativismo e desporto?
O associativismo e o desporto foram dos principais trunfos deste executivo. Para desenvolvermos e promovermos a Freguesia temos de estar ao lado das associações. O trabalho de voluntariado deve ser cada vez mais honrado e enaltecido. Não é fácil de o fazer e temos muitas associações em Romariz que prestam um ótimo trabalho, que divulgam e levam o nome da Freguesia mais longe. Foi sempre ponto inicial deste executivo estar ao lado de todas as associações, sejam de carácter desportivo, cultural ou recreativo. Temos várias reuniões com as associações e tentamos incentivar à promoção de eventos.
E na área social?
Temos a Conferência Vicentina, uma associação em que depositamos total confiança, que diariamente faz um trabalho de voluntariado de donativos de bens alimentares, e não só, para as pessoas mais carenciadas. Trocamos recorrentemente impressões com a Conferência e Paróquia e ajudámos, por exemplo, recentemente, no Natal, no apoio para os cabazes.
“Quando se quer fazer um bom trabalho é difícil agradar a todos”
Que principais dificuldades encontrou na gestão da JF?
As pessoas. Quando se quer fazer um bom trabalho é difícil agradar a todos. Nunca o conseguimos. Temos de fazer o que pensamos ser correto, mas às vezes é complicado. O trabalho de presidente de JF é um trabalho de campo, de ouvir as pessoas e, por melhores intenções que tenhamos, encontramos sempre dificuldades. O maior obstáculo que sinto é lidar com as pessoas. Não que as pessoas não queiram ajudar, mas o primeiro impacto por vezes é difícil. Mas com calma estamos a conseguir. Na Câmara Municipal, deve-se dizer, tenho encontrado uma equipa excelente, que me tem facilitado muito a vida. Nada me foi negado do que peço em prol da Freguesia.
A escassez de recursos humanos e financeiros é um problema?
Sim. Digo bem do Município, mas também admito que a verba que recebemos do Município é reduzida. As freguesias dependem muito da sede de município porque não são autónomas. Praticamente o nosso orçamento é para pagar ordenados. Para tudo o resto praticamente dependemos da Câmara Municipal. Se fossemos mais autónomos, faríamos muito mais obra e de forma mais célere. Uma freguesia como Romariz não precisa de muita obra. Todas as pessoas carecem de três bens essências: a saúde; as acessibilidades (pavimentações); e a qualidade de vida em termos de infraestruturas. Em Romariz, ainda temos 30% da população que carece de rede de águas e esgotos. Se me pergunta se é fácil resolver este problema, a resposta é que sim. Mas se me pergunta se tenho capacidade de resposta para o problema, a resposta é não. Não porque o Município é grande, ainda há muitas freguesias que carecem do mesmo problema e o Município não consegue dar uma resposta atempada a todas as freguesias. Se tivéssemos recursos próprios provavelmente já teríamos solucionado esses problemas.
Que balanço faz dos primeiros 16 meses de mandato?
É um balanço positivo de um trabalho diário que começa a trazer algumas alegrias porque, e agora falando mais com o coração do que com a razão, quando estamos com gosto sentimos que cada pedra que colocamos na Freguesia nos enche de orgulho. Sabemos que há muito para fazer, mas também sabemos que muito já foi feito. E nos três anos que restam ainda vamos dar muitas alegrias à Freguesia. Podemos não conseguir fazer tudo, devem ser precisos três mandatos para conseguir atingir toda a Freguesia, mas passo a passo estamos a conseguir atingir os nossos objetivos, sempre com o apoio da Câmara Municipal, a quem agradeço. O executivo da Câmara Municipal tem feito um excelente trabalho e tem-nos apoiado a 100%.
É engenheiro civil. Tem sido difícil conciliar a área profissional com a gestão da JF?
Às vezes não é fácil. Temos de ser bons ouvintes e às vezes é difícil depois de um dia de trabalho. Essa é a maior dificuldade que encontro. A Freguesia é muito grande e nem sempre conseguimos chegar a todos, mas queremos chegar.