Comboio direto até ao Porto
Opinião

Comboio direto até ao Porto

É mais que legitimo defender uma ligação ferroviária até à capital metropolitana, como acontece com todos os Concelhos da parte Norte da AMP. Não podemos aceitar ficar na 2.ª divisão metropolitana

M. Castro Almeida

Tive o gosto de participar nos dois colóquios/ debates que se realizaram no Europarque e em S. João da Madeira, nos passados dias 2 e 4, sobre o futuro da linha do Vouga. Discutiu-se, em particular, se era ou não possível remodelar a linha atual por forma a garantir viagens entre Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira e Santa Maria da Feira até ao Porto, sem mudar de comboio em Espinho.

Na sessão do Europarque fico claro que seria possível modernizar as estações, garantir uma bilhética moderna, instalar comboios confortáveis e assegurar o cumprimento de horários, tudo isto mantendo a bitola estreita atual. No entanto, não seria possível assegurar a viagem até ao Porto sem mudar de comboio em Espinho. Esta mudança em Espinho obviamente aumenta o tempo de percurso até ao Porto e retira conforto e comodidade à viagem. Além do tempo normal de um transbordo, há que contar com os frequentes atrasos, que tornariam pouco atrativo o comboio, na comparação com o automóvel ou o autocarro.

Na sessão de S. João da Madeira ficou claro que a instalação de bitola larga (Ibérica) no troço entre Oliveira de Azeméis e Espinho é tecnicamente possível, permitindo que os comboios entrem diretamente na linha do Norte, em direção ao Porto, sem necessidade de mudar de comboio em Espinho.

Para suportar a nova bitola e para garantir maior velocidade, são necessárias correções do traçado da atual linha do Vouga, transformando a duração do percurso entre Oliveira de Azeméis e Espinho em 35 minutos, em vez dos atuais 64. Poupa-se tempo no percurso e evita-se o tempo do transbordo. A velocidade média passaria dos atuais 30 Km/hora para 80 a 100 Km. Naturalmente que esta opção é mais cara.

Porquê falar deste assunto agora? Porque o Governo colocou em discussão pública o Plano Ferroviário Nacional (PFN), até ao final deste mês. É agora o tempo próprio para as populações desta região e os seu Autarcas dizerem se é ou não importante garantir comboio direto até ao Porto.

Tenho uma posição formada sobre este assunto. Em primeiro lugar, não me agrada ver o PFN consagrar que a linha do Vouga seja a única linha de Portugal em bitola estreita (métrica), excluindo-a da restante rede ferroviária. Para uma região se desenvolver, precisa de estar nas redes, valorizar a conectividade e não o isolamento.

Em segundo lugar, se pertencemos à Área Metropolitana do Porto (AMP), é mais que legitimo defender uma ligação ferroviária até à capital metropolitana, como acontece com todos os Concelhos da parte Norte da AMP. Não podemos aceitar ficar na 2.ª divisão metropolitana.

O custo adicional deste investimento – tenho ouvido falar de valores na ordem de 40 a 45 milhões de euros- não é excessivo se pensarmos que é um investimento para os próximos 80 ou 100 anos e se considerarmos que desde o Rei D. Carlos que não há investimento ferroviário nesta região onde vivem mais de 300.000 pessoas. Ainda há poucas semanas, vimos aprovar 300 milhões de euros para trabalhos a mais em duas linhas do metro de Lisboa. 300 milhões só para sobrecustos!

Finalmente, é necessário recordar a conclusão do estudo desenvolvido pelo Instituto da Construção, da Faculdade de Engenharia do Porto, a pedido da Associação de Municípios da Terras de Santa Maria: “Das opções analisadas, a que apresenta maiores mais-valias, apesar do investimento, é a que preconiza a requalificação do canal para via-férrea de bitola ibérica”.

Confio que os nossos Autarcas se mobilizem em torno desta causa, que será um impulso inestimável à melhoria das condições de vida nesta região. Este é um sonho que tem pés para andar: ir de comboio direto até ao Porto, com um passe mensal de 40 euros. Está ao nosso alcance transformar este sonho em realidade.

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Manuel Castro Almeida
COLUNISTA
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