Depois de durante mais de uma década vestir o papel de Caifás, o ator Hugo Fernandes, do Grupo Gólgota, fez uma mudança radical para interpretar Jesus Cristo
Não corta a barba desde janeiro, perdeu mais de sete quilos em apenas dois meses e treina diariamente uma nova postura corporal, novos movimentos, novas expressões e novos textos.
Hugo Fernandes prepara-se, física e psicologicamente, para a sua estreia como Jesus Cristo nas recriações da Semana Santa de Santa Maria da Feira, protagonizadas pelo Grupo Gólgota.
Durante anos a fio, este papel central e de enorme exigência foi assumido de forma plena por Rui Costa, um ator “brutal”, que “conseguiu montar o personagem perfeito, na atitude, no olhar, nos movimentos e no tom de voz”. Assim o descreve o sucessor e amigo Hugo, que durante mais de uma década vestiu a pele de Caifás [na foto], o sumo sacerdote que acusou Jesus de blasfémia e ordenou que fosse condenado.
De Caifás para Jesus, “muda tudo, muda do oito para o 80, é começar de novo”, sublinha o ator. Apaixonado pela arte de representar desde tenra idade, afirmava convicto, até há bem pouco tempo, que jamais tentaria desempenhar este papel, “o mais difícil de representar”, na sua opinião.
Hugo Fernandes explica que “vestir o papel de Jesus é de uma complexidade tremenda, sobretudo pelo registo ‘temperado’ das suas intervenções”. Mesmo assim, acabou por aceitar o desafio, que encarou desde o primeiro momento como um verdadeiro teste – “mudar o chip, passar de um personagem carismático ‘mau’ precisamente para o oposto”.
O novo Cristo da Semana Santa tem bem presentes os anos sucessivos em que representou o papel de Caifás e não esquece nem os olhares de repugnância que o público tantas vezes lhe dirigiu, nem os comentários depreciativos motivados pela crueldade do seu personagem. “Sinal de que a mensagem passou”, sublinha.
Natural de Vale de Cambra, a residir há mais de duas décadas em território feirense, Hugo Fernandes tem 45 anos, é casado e tem duas filhas. Garante que recebe “todo o apoio necessário” da família nestes dias de maior ausência e exigência, mesmo nos momentos em que admite ser “maçador” – por exemplo, quando tenta ‘vestir’ o papel de Jesus a meio de uma refeição ou insiste em representar uma ou outra passagem das recriações.
E qual o sentido mais profundo desta participação como ator na Semana Santa? “É sobretudo um período de reflexão sobre as minhas crenças e a minha fé”, confidencia “É uma forma de me obrigar a parar, o que não é fácil nos dias de hoje, e a olhar para o meu interior”.
Entre o programa da Semana Santa do município de Santa Maria da Feira nota para a ‘Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém’, no domingo, 2 de abril, às 15h30, da Igreja Matriz aos Passionistas; a ‘Última Ceia, Getsémani e Sinédrio, 5 abril, 21h30, no exterior do Museu Convento dos Loios; e a ‘Via Sacra’, 7 de abril, 21h30, do Palácio da Justiça ao Castelo de Santa Maria da Feira. Pode consultar todo o programa em www.semanasanta.pt.
