Descargas ilegais no rio Uíma voltam à ribalta
Sociedade

Descargas ilegais no rio Uíma voltam à ribalta

As descargas industriais nos efluentes do rio Uíma, em Fiães, estão na ordem do dia, após uma investigação transmitida em canal aberto (RTP). Os denunciantes suspeitam da Cinca, porém, a multinacional rejeita “qualquer responsabilidade nas referidas ocorrências”. A Autarquia assegura estar a acompanhar o assunto em articulação com as autoridades competentes

Uma investigação transmitida num programa televisivo, na passada sexta-feira, dia 24, dá conta de sucessivas descargas industriais nos efluentes do rio Uíma, em Fiães.

A investigação reúne o testemunho de finanenses, que já perderam a conta à quantidade de vezes que registaram em vídeo os fluentes do Uíma pintados de branco nos últimos anos. As denúncias, por parte da população e de vários quadrantes políticos, são constantes, sendo que nesta investigação as suspeitas dos denunciantes recaem sobre a multinacional que se dedica à produção de cerâmicas, a Cinca.

O tema foi inclusive levado a reunião de Câmara, no período antecessor à Ordem do Dia, pelo socialista Sérgio Cirino, que referiu custar-lhe “aceitar que aconteça há tantos anos e [o assunto] ainda não esteja regularizado”. “Mesmo com os guarda-rios, as descargas continuam”, constatou. O presidente da Câmara Municipal assegurou que o assunto “está identificado há algum tempo” e que o Município tem feito o seu trabalho. “A situação já foi participada. A Associação Portuguesa do Ambiente (APA) instaurou um processo de contraordenação e a Cinca está intimada a tentar minimizar”, expôs Emídio Sousa.

Por seu turno, o vereador do Ambiente, Mário Jorge Reis, acrescentou que em 2022, após um período de várias queixas de descargas sucessivas, realizaram “uma vistoria técnica surpresa”, que incluiu a visita “a várias empresas”. “Fomos a várias empresas e a poluição numa delas é muito mais perigosa. O nosso conforto é que pelas análises que vamos fazendo, não têm impacto na fauna e na flora. Mas atualmente são muito menos do que eram. Com os guarda-rios temos detetado muitas situações aos fins de semana e em períodos pós-laboral, cujas empresas vão retificando e procurando minimizar”, avançou.

Ao Correio da Feira, o Município assegurou que a equipa de ‘Guardiões dos Rios’, criada em parceria com a Indaqua e a APA, “acompanha todas as ocorrências nas linhas de água do Concelho”. A Autarquia “defende a responsabilização dos autores, estando a acompanhar o assunto em articulação com as autoridades competentes”, encontrando-se, ainda, “disponível para colaborar com as entidades competentes para a fiscalização de descargas de efluentes líquidos (APA) e coordenadoras do licenciamento industrial”.

Cinca nega responsabilidade

Contactada pelo Correio da Feira, a multinacional “rejeita qualquer envolvimento nas alegadas ocorrências que estão a ser relatadas”. “O nome da Cinca tem vindo a ser envolvido, de forma indevida e sem quaisquer evidências, em episódios de situações de contaminações de águas, nomeadamente nos cursos de água existentes na zona onde se insere”, refere o técnico Luís Mota, informando que “ao longo dos anos, com particular destaque para os anos mais recentes, a empresa tem vindo a investir elevadas somas, na ordem das muitas centenas de milhares de euros, na instalação de equipamentos destinados à proteção do ambiente, nomeadamente na área do tratamento de águas tecnológicas com vista à sua reutilização, reaproveitamento de matérias-primas e filtragem de efluentes gasosos”.

O processo de fabrico da Cinca recorre “fundamentalmente ao uso de matérias-primas naturais, nomeadamente argilas, caulinos, areias e feldspatos, componentes estes total e absolutamente inertes e inócuos para o ambiente”, especificou, dando nota de que “as entidades oficiais, nomeadamente GNR/SEPNA, CCDR-N e APA visitam com regularidade a empresa, podendo constatar os seus procedimentos e avaliar o seu desempenho ambiental, sem que dessas visitas, de forma devidamente comprovada, tenha resultado qualquer condenação da empresa relativamente aos episódios em apreço”.

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Márcia Soares
JORNALISTA | Licenciada em Ciências da Comunicação. A ouvir e partilhar as emoções vividas pelas gentes da nossa terra desde 2019.
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