Dinamismo do circo contemporâneo envolvido pelo Museu de Lamas
Cultura

Dinamismo do circo contemporâneo envolvido pelo Museu de Lamas

Pela primeira vez em dose dupla, 13 artistas de quatro países vão convidar o público a redescobrir o espólio de arte sacra e cortiça através de outro prisma. Entre os dias 15 e 16 de novembro, o Museu de Santa Maria de Lamas é palco da segunda edição da Noite do Circo, que tem a curadoria de João Paulo Santos, artista circense que “vê potencial neste micro festival para transformar-se num grande festival” nos próximos anos

13 artistas de quatro países, Portugal, França, Suíça e Itália, protagonizam oito apresentações de entrada livre, três em estreia absoluta, uma criação Noite do Circo e uma exposição de arte. Com curadoria de João Paulo Santos, artista circense pioneiro na área do circo contemporâneo em Portugal, a Noite do Circo – projeto integrado na rede internacional La Nuit du Cirque – visa fortalecer o posicionamento do novo circo no panorama nacional, descentralizar a oferta cultural e artística no território e estimular a redescoberta do património arquitetónico através de manifestações artísticas.

Em 2024, surge pela primeira vez em dose dupla. “Alargámos a duração da Noite do Circo em virtude da adesão de novos públicos, sobretudo as gerações mais jovens, mas também para recentrar o projeto num equipamento cultural estruturante, o Museu de Lamas, promovendo o acolhimento de performances arrojadas num espaço não convencional e que traga as novas gerações a este espaço museológico de excelência”, justifica o vereador da Cultura, acreditando que há condições, no futuro, “para criar um formato mais alargado e diferenciador, capaz de envolver o público geral e abrir oportunidades, também, ao segmento de profissionais”.

Segundo Gil Ferreira, o micro festival representa um momento de encontros que trabalha diversas camadas, desde a mediação, criação, difusão e reflexão, e desempenha um papel significativo na afirmação de Santa Maria da Feira “como um centro de referência para as artes performativas”. “No contexto local, é uma oportunidade de descentralização do acesso, levando o melhor da criação artística contemporânea a Santa Maria de Lamas, numa lógica de promoção cruzada de patrimónios, valorizando em particular o património museológico do nosso ‘Museu da Cortiça’”, salienta.

Nesta edição, o público será convidado a vivenciar uma fusão de estímulos artísticos e culturais. “Esta nova edição caracteriza-se pela vontade de fazer um festival com várias vertentes. Em primeiro lugar, propor espetáculos de circo contemporâneo de grande qualidade e pertinência artística à comunidade de Santa Maria da Feira. Em segundo, dar continuidade à open call da noite do circo, lançada aos artistas portugueses, no início deste ano, e que culmina com a apresentação do projeto apoiado ‘Kairós’ da companhia FIKA. A Noite do Circo terá outras vertentes, como, por exemplo, um momento de partilha e reflexão através de uma mesa redonda para discutir os processos de criação em residência em Portugal, assim como uma exposição dos alunos do Estúdio Arte, Desenho & Pintura de Santa Maria da Feira”, detalha João Paulo Santos, que aceitou com agrado o convite do Município para ser o curador da segunda edição. “Aceitei o projeto porque parece-me muito importante poder contribuir com o meu conhecimento e experiência, para que o circo contemporâneo possa continuar a crescer em Portugal. Vejo também um enorme potencial neste festival para transformar-se num grande festival nos próximos anos”, justifica o artista circense, residente em França há mais de duas décadas.

Oito propostas para diferentes públicos

Sobre a programação, pensada no enquadramento técnico do Museu de Lamas, abre na sexta-feira, 15 de novembro, às 21h30, com a exposição do Estúdio de Arte, Desenho e Pintura de Santa Maria da Feira, que tem a curadoria do artista plástico Marco Macedo. Segue-se a performance ‘Statikman’, do galardoado homem-estátua António Santos, que promete surpreender o público com a sua quietude, marcada pela estreia de um figurino construído de raiz com tecido de cortiça. A noite termina com a performance de mastro chinês ‘Une Partie de Soi’, da companhia francesa Cie O Último Momento, fundada pelo curador João Paulo Santos.

A tarde de sábado, 16 de novembro, será preenchida com espetáculos para famílias, como a performance de malabarismo ‘BPM – Beat Per Minute’, da companhia francesa POC, agendada para as 16h, seguida de um momento de acrobacia e contorcionismo (18h30) – ‘Abel’, da Cie Del Caravaggio (Itália, Portugal e França). Antes, às 17h15, inicia uma conversa temática centrada no tema ‘Processo de criação em residência – Novo circo em Portugal’, que conta com a participação de quatro artistas nacionais e internacionais – Jean Marc Broqua (La Grainerie), Bruno Machado (INAC), Rui Paixão (artista independente, com participações na companhia Cirque du Soleil) e Cláudia Berkeley (Teatro da Discália) – e moderação de João Paulo Santos.

Um dos destaques é a estreia da performance de acrobacia e dança Kairós, da companhia luso-francesa FIKA, vencedora da chamada aberta de circo contemporâneo Noite do Circo, lançada pelo Cineteatro António Lamoso, em parceria com o Centro Cultural de Paredes de Coura, agendada para a noite de sábado. O circuito de apresentações inicia às 21h30, com a reposição da performance ‘Statikman’, de António Santos, seguida do espetáculo ‘A última recordação do meu relógio’, de Fernando Torres Barria (Suíça), que cruza o malabarismo com a magia. A programação encerra com uma sessão de DJ Set, protagonizada por Vivax.

“É um festival para todos os públicos e a sua programação é pensada nesse sentido, queremos que os profissionais da área partilhem experiências, sobretudo através da mesa redonda. Penso que vai ser um momento muito enriquecedor com forte adesão por parte do público”, antevê João Paulo Santos, destacando o papel de Santa Maria da Feira enquanto centro produtor de conteúdos. “É importantíssimo o papel de Santa Maria da Feira como espaço de criação e difusão do circo contemporâneo em Portugal, seja através de projetos consolidados como o festival Imaginarius, seja através da open call Noite do Circo e sobretudo da vontade do Município de dar mais corpo a este projeto”, sublinha, julgando que o circo contemporâneo “está numa fase crescente em Portugal, pelo que há que continuar a tendência para que no futuro possamos ter cada vez mais propostas feitas por artistas/companhias portuguesas, e quem sabe se possa tornar numa referência internacional”.

Projeto de “suma importância” para o museu

Descentralizar a oferta cultural e artística no território e estimular a redescoberta do património museológico através de manifestações artísticas diferenciadoras é, para a diretora do Museu de Lamas, “fundamental para todos os equipamentos culturais localizados na periferia”. Por isso, Susana Ferreira destaca “a suma importância do projeto”. “Indo ao encontro dos conceitos da museologia contemporânea, seguramente contribuirá para o alcance do objetivo essencial e a missão de transformar o museu num polo cultural de referência, com forte aposta na programação multidisciplinar, aliando futuro, tradição e memória”, afirma.

A Noite do Circo permitirá também o alcance de renovados públicos para o espaço museológico, que espera “fidelizá-los”. “Ao acolher este evento, o museu não só amplia a sua oferta cultural, mas também se torna um ponto de encontro onde diferentes públicos podem explorar e apreciar as artes circenses num contexto histórico, enriquecendo a experiência do público e destacando a capacidade do museu de integrar-se nas dinâmicas culturais contemporâneas”, acrescenta, por seu turno, o vereador Gil Ferreira.

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Márcia Soares
JORNALISTA | Licenciada em Ciências da Comunicação. A ouvir e partilhar as emoções vividas pelas gentes da nossa terra desde 2019.
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