Faleceu Etelvina Araújo, aos 66 anos
Cultura

Faleceu Etelvina Araújo, aos 66 anos

Diretora do departamento da Cultura, Educação, Juventude e Turismo do município de Santa Maria da Feira, Etelvina Araújo partiu na madrugada de sexta-feira, dia 24 de março, poucos dias depois de ter completado 66 anos. Deixou uma marca indelével na cultura feirense

Formada em História, Etelvina Araújo teve uma ‘ligação umbilical’ com a Cultura e o território feirense. Assumiu o cargo de diretora da Biblioteca Municipal, ainda antes desta ganhar espaço próprio nas atuais instalações, sendo considerada uma das grandes impulsionadoras da evolução deste espaço público de partilha de conhecimento.

Presente em vários projetos culturais do Município ao longo de vários anos, Etelvina Araújo foi pioneira das bibliotecas públicas da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas; esteve na génese da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira; e coordenou o projeto de construção do Arquivo Municipal. “O modelo de bibliotecas públicas como as conhecemos hoje em Portugal foi, desde a sua organização e gestão à inovação em serviços prestados, certamente influenciado pelas ideias de Etelvina Araújo. Desde a implementação da norma da qualidade ISO 9001, tornando a Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira na primeira biblioteca pública em Portugal a implementar um sistema de gestão da qualidade até à organização fundo documental por centros de interesse ou à constituição de clubes informais, para trabalhar diversas áreas de literacia na comunidade são pontos de inovação e prossecução da excelência que podemos destacar como marcos com as marcas de Etelvina Araújo”, assevera o vereador da Autarquia com a pasta da Cultura, Gil Ferreira, que teve “o privilégio de, ao longo dos últimos nove anos, construir uma recíproca relação de respeito, confiança, admiração e amizade com Etelvina Araújo”, um “ser humano ímpar e de rara dedicação aos outros”.

“Inspiradora e especial” é como a recorda a atual chefe de divisão de Bibliotecas, Mónica Gomes – substituiu Etelvina Araújo, por nomeação desta, no cargo, em junho de 2022 –, que mantinha, desde 2000, “uma relação profissional e pessoal de muita proximidade e confiança, pautada por muita admiração, respeito, cumplicidade, aprendizagem, partilha e sobretudo amizade” com a falecida.

Sentido de missão e compromisso

O caminho traçado em vida por Etelvina Araújo e a forma como a encarava são motivos de rasgados elogios por quem a conhecia. “Recordo-a como uma pessoa de elevado sentido de missão e compromisso com a instituição pública e particularmente com as comunidades que esta serve. Uma pessoa de uma sensibilidade e inteligência emocional cativantes e contagiantes. Uma força de trabalho”, caracteriza Gil Ferreira, confidenciando que quando a ex-diretora da Biblioteca Municipal “soube do diagnóstico e prognóstico [da doença] pediu para que a ‘deixassem’ continuar a trabalhar”. “E assim foi enquanto teve capacidade física, até há bem pouco tempo”, acrescenta sobre Etelvina Araújo, para sempre lembrada “como alguém que usava do sorriso e de uma educação primorosa como principais argumentos na relação com as pessoas e na mediação dos pequenos e dos grandes projetos”.

Os dois trabalharam em conjunto em muitos projetos e sonharam outros tantos, de acordo com o vereador. “Ao longo destes nove anos em particular, tive o privilégio de muito aprender com a Etelvina Araújo. Posso destacar, por exemplo, a implementação do sistema de auto-empréstimo da nossa biblioteca, que permitiu alargar os seus horários de funcionamento a sete dias por semana; a implementação do serviço Press Reader e a disponibilização de bases de dados EBSCO num contexto de promoção do acesso a importantes fontes digitais e online do conhecimento; o projeto Leituras em Linhas, enquanto serviço de literacia e itinerância para a promoção de leituras; a implementação da biblioteca especializada padre Domingos Moreira – o Abade de Pigeiros ou, mais recentemente, em 2015, o SIGIM – Sistema Integrado de Gestão da Informação Municipal, com o objetivo de otimizar os fluxos na eficácia, eficiência e na qualidade da informação e comunicação do dia a dia na organização, entre tantos outros projetos inspiradores e atuais”.

Mais de duas décadas a partilharem experiências

No momento do adeus, Mónica Gomes não esquece os 23 anos de trabalho lado a lado com a ex-diretora da Biblioteca Municipal, que culminaram em “muitas aprendizagens, lições e experiências partilhadas”. “Cresci muito com a Etelvina, quer a nível pessoal, quer em termos profissionais”, deixa como garantia, antes de a descrever como “uma pessoa inteligente e criativa, cheia de luz, garra e energia, que pensava e fazia acontecer. Uma eterna apaixonada pelo livro, pela leitura, pela biblioteca, pela cultura, com um enorme sentido de missão e compromisso para com o serviço público. Uma mulher extraordinária, humana e leal, uma amiga afetuosa e uma profissional de excelência, que tocou a todos que com ela se cruzaram”.

A chefe de divisão de Bibliotecas elege como um dos momentos mais especiais, entre “os muitos e bons momentos passados, pessoais e profissionais”, a inauguração da Biblioteca Municipal, em 2000, aquando receberam, em simpósios, “ilustres intelectuais e personalidades nacionais e internacionais, como José Saramago, Eduardo Lourenço, Salman Rushdie, Giuliana Sgrena, Francesco Alberoni e Raimon Panikkar”. “A Etelvina liderava com maestria a nossa equipa, sempre com espírito de serviço público, muito entusiasmo, determinação e sobretudo muito afeto e humanidade”, revive.

Paralelamente à sua paixão e trabalho especializado na área das Bibliotecas, até cerca de 1998, Etelvina Araújo desempenhou funções num universo mais lato, enquanto chefe de divisão de Cultura, tendo estado na base de projetos que caracterizam o ecossistema cultural, nomeadamente nas relações internacionais e interculturais, como por exemplo com Joué-lès-Tours, uma referência na área do teatro e artes de rua, ou no Festival 7 Sóis 7 Luas.

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Nélson Costa

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DIRETOR | Jornalista de formação e por paixão. Curioso, meticuloso, bom ouvinte, observador até das próprias opiniões.
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