Chega-se aquela altura do ano em que o número de visitantes dispara, vêm turistas de todas as partes do mundo para gozar férias nos mais variados destinos turísticos portugueses, quer seja para passarem uns dias na praia, conhecer as atrações e os locais marcantes da história portuguesa, fazer um cruzeiro nas águas do Douro, uma road trip de Norte a Sul… ou para conhecerem o rico panorama gastronómico português.
O Turismo Gastronómico tem-se vindo a evidenciar como uma das principais motivações de turistas para visitar o país, servindo para combater a sazonalidade ao estar acessível durante todo o ano. Este funciona como escape para os turistas internacionais fugirem do seu ambiente habitual, envolvendo-os num ambiente inovador, dado que os estes estão constantemente à procura de experiências de aprendizagem, no qual a gastronomia desempenha um papel predominante e essencial. Quem viaja são cada vez mais pessoas experientes, com maior disponibilidade financeira e mais tempo de lazer para viajar. Aliás, o próprio conceito de gastronomia veio-se a alterar ao longo do tempo: deixou de ser apenas algo para fornecer energia ao corpo, tendo adquirido caraterísticas particulares, transformando-se num elemento cultural diferenciador.
Partindo para a realidade de Santa Maria da Feira, o seu património gastronómico — muito ligado à identidade milenar do Concelho, influenciado pelas suas raízes celtas, medievais e conventuais — levou à criação do pão doce Fogaça da Feira, tendo dado origem, em 1500, à secular Festa das Fogaceiras. Pode-se dizer que a Fogaça da Feira é a fonte inspiradora e impulsionadora da afirmação gastronómica de Santa Maria da Feira, por conjugar o doce e o salgado, fazendo emergir novas ofertas gastronómicas no território, logo seguida dos famosos caladinhos. Como outras iguarias de grande destaque e de forte tradição sobressai-se a Regueifa Doce, associada à Páscoa, as trouxas de Santa Maria de Sanguedo, os doces de chá, o concurso de sopas e todo o património gastronómico associado à agricultura, ao artesanato e ao folclore, como por exemplo as desfolhadas e as vindimas, que pelas suas especificidades integram os costumes, história e cultura do Concelho. A proximidade ao mar e aos diferentes rios oferecem uma grande diversidade de peixes, enquanto a carne e os laticínios emergem do interior e da serra. A indústria de processamento de lacticínios alia a tradição, quase centenária, com a inovação, garantindo a máxima qualidade dos seus produtos. No que toca às bebidas, o Município apresenta a cerveja artesanal com lúpulo feirense, que levou à criação do Festival da Cerveja Artesanal com Lúpulo Feirense, e a Châmoa (licor e vinho) que se desenvolveu graças, em grande parte, à Viagem Medieval (que curiosamente está a porta).
Percebendo a importância da Gastronomia Feirense e o seu papel na cultura, o Município procurou imortalizá-la, não só ao integrar uma forte componente gastronómica nos eventos, como ao imprimi-la na educação de jovens e da comunidade em geral. O Concelho conta com escolas, cursos e programas, de educação formal e não formal, de capacitação e de aquisição de competências gastronómicas, culturais e criativas, através de cursos profissionais de Cozinha, Padaria, Pastelaria, Enologia e Restaurante/Bar, direcionados para jovens, adultos, desempregados e pessoas com deficiência. As aprendizagens ditas de educação não formal, promovidas pela Câmara e em parceria com entidades públicas ou privadas, são veiculadas em workshops de cariz regional, medieval, gourmet ou de alimentação nutricional saudável, destinados a alunos nas pausas escolares, desempregados ou público em geral.
Estando a Gastronomia em constante estado de reinvenção, mas sem esquecer as suas origens e tradições, o Município tem procurado aliar esta a uma vertente de extrema importância, a Sustentabilidade. Com o projeto ‘Encruzilhada de Sabores’, pretende-se salvaguardar, proteger e transmitir o património gastronómico de Santa Maria da Feira, contribuir para modelos de negócios e hábitos de consumo mais sustentáveis, baseados numa economia circular, que privilegia a diminuição do desperdício alimentar e a sustentabilidade ambiental. Assim, procura-se equilibrar a tradição gastronómica milenar, com a adequação das confeções culinárias, ao valor nutricional dos alimentos; dar preferência ao consumo de alimentos da produção e da transformação local e sazonal de base biológica e sustentável (frutos, vegetais, lacticínios, entre outros).
Para terminar, percebe-se que o património gastronómico do Concelho vai além da produção, transformação, consumo, preservação, apresentação ou mesmo comunicação dos alimentos, é acima de tudo parte integrante da história, dos usos e costumes da comunidade feirense.