Histórias do pós-25 de Abril
Opinião

Histórias do pós-25 de Abril

Quando terminei a primeira fase da minha escola, chamada Escola primária (agora com outra designação), após o 25 de Abril, fui para Vila da Feira, agora Santa Maria da Feira, para o 1.º ano, o chamado ‘ensino secundário’. Saí juntamente com os meus colegas da escola do Cerrado, para a Feira. Éramos cerca de 36. Normalmente, apanhávamos a camioneta para a Feira e regressávamos ao final da tarde.

Como tinha acontecido o 25 de Abril, recentemente, andava tudo de ‘candeias às avessas’. Nem sempre tínhamos aulas, ou os professores faltavam. Assim foram, os primeiros tempos do secundário. Este período durou cerca de três meses. Éramos todos muito unidos, e protegíamo-nos uns aos outros. Houve uma vez que perdemos a camioneta. Então viemos todos a pé da Feira até Paços de Brandão. Uma das vezes, dois dos meus colegas perderam a camioneta e foram ter a uma Papelaria que existia junto à rotunda. Pediram para telefonar para suas casas e o proprietário foi levá-los a Paços.

Com todas as incertezas, que pairavam no ar, alguns pais juntaram-se e foram falar com o Dr. Vieira para que se integrasse no Colégio de Lamas, esta turma de 36 alunos, mesmo tendo perdido já um período de aulas. O Dr. Vieira, acedeu a este pedido, e no segundo período, foi constituída uma turma. A princípio, teve de ser estudar a melhor estratégia para ver se se dava as aulas do início ou dar a matéria da melhor forma possível. Assim integramos o Colégio de Lamas. Fiz muitos amigos, alguns até hoje; outros vou encontrando aqui e acolá. Como o tempo passa…, andei lá até ao 11.º ano. Saí para tirar um Curso de Secretariado no Porto.

Tivemos muitas situações divertidas, outras menos. Fizemos muitas asneiras, mas não faltávamos ao respeito aos professores, senão…. já sabíamos o que nos iria acontecer… apanhávamos a camioneta muito cedo para ir para as aulas (cerca das 07h30 da manhã), muitas vezes carregados de material dos Trabalhos Manuais, ou para as aulas de Educação Visual, ou para fazer desporto. As raparigas tinham de usar uma bata preta. Posteriormente, essa regra acabou felizmente.

Também tínhamos aulas ao Sábado, até à uma da tarde. Umas vezes, vínhamos a pé, outras de camioneta. Ainda não tinha sido construída a auto-estrada. Havia ali um ribeiro e uma mata perto do colégio. Então, em grandes grupos cortávamos caminho e íamos ter ali perto da fronteira entre Paços e Lamas, perto do Restaurante Latino. As instalações não eram tão modernas como as de hoje. Muitas vezes, durante as aulas, ouvíamos a música alto que vinha das casas, ou, o cheirinho da comida a subir pelos nossos narizes acima.

Tivemos muitas vezes, aulas no Museu de Lamas. Todos nós o conhecíamos de uma ponta de outra. Agora, está muito mais organizado, e mais bem concebido. Tem sempre exposições diferentes, com muito interesse. Cada um de nós seguiu o seu caminho. Como somos todos da mesma zona, praticamente, é muito comum encontrarmo-nos em qualquer lugar… muito mudou, agora tem instalações modernas. O Dr. Vieira, pessoa que dirigiu este Colégio, já faleceu, mas deixou uma obra importante, para todos que passaram por lá, e posteriormente se formaram ou não.

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Mary Rosas

contributor
COLUNISTA
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