O luto é um processo multidimensional, dinâmico e individual, envolvendo um conjunto de reações emocionais, físicas, comportamentais e sociais que aparecem como resposta a uma perda – real (por exemplo, perda por morte, separação) ou fantasiosa (por exemplo, perda de expectativas, objetivos). A perda implica uma adaptação a uma nova condição.
O luto por morte é tanto mais doloroso quanto maior a ligação, a confiança, a estabilidade e o amparo existentes na relação. Para a maioria das pessoas, um período inicial de sofrimento agudo evolui naturalmente para um sofrimento progressivamente atenuado e aceite como parte integrante do próprio.
A adaptação à perda envolve cinco fases: a negação (“Isto não pode estar a acontecer.”), a raiva (“Porquê comigo? Não é justo!”), a negociação (“Faço tudo para a/o ter de volta”), a depressão (“Nada mais interessa”) e a aceitação (“Eu não consigo lutar contra isto, tenho de conviver com a ausência”), fases que nem sempre ocorrem por esta ordem.
O sofrimento intenso não é patológico, mas deverá suscitar alerta e a procura de um profissional de saúde quando se prolonga por mais de seis meses, associado a uma incapacidade ou prejuízo no funcionamento pessoal, social, relacional e/ou profissional. Sem correr o risco de tornar o luto patológico, é fundamental evitar a instalação de uma perturbação de luto prolongado (PLP). Estima-se que aproximadamente 10% das pessoas em luto acabam por desenvolver PLP.
O primeiro ano após a perda exige uma integração e adaptação progressivas tanto emocional quanto cognitiva. É um ano com oscilações naturalmente associadas a datas significativas, em que a ausência impera e agudiza os sintomas de luto. Existem fatores de risco para a PLP, nomeadamente a existência de patologia mental prévia, como, perturbações de humor e ansiedade, a ausência de rede de suporte familiar e/ou social, o grau de relação existente, eventos traumáticos prévios, a natureza da morte (por exemplo, violenta, repentina, suicídio) e as suas circunstâncias.
A recuperação progressiva da estabilidade emocional ao longo do processo de luto é fundamental para uma ressignificação e projeção no futuro. Neste sentido, o acompanhamento pela Psicologia Clínica e, em situações mais graves, pela Psiquiatria (no caso de quadros de ansiedade limitante, depressão ou alterações comportamentais com risco, ideias de morte, insónia persistente) podem ser cruciais para a obtenção dessa estabilidade.
Apesar do luto ser um processo individual não deve ser um processo solitário: é possível com a ajuda adequada ultrapassá-lo de forma atingir uma nova reorganização, um novo equilíbrio, um novo sentido.