O barco encalhado
Opinião

O barco encalhado

Poderia nestas linhas no Correio da Feira deixar algumas considerações sobre a Viagem Medieval. No entanto, poderia não ter espaço para enunciar todos os aspetos positivos e os inúmeros aspetos negativos.

Prefiro colocar enfoque na belíssima cerimônia de abertura realizada no barco e que de forma exemplar é ao mesmo tempo uma alegoria ao Concelho de Santa Maria da Feira.

Assisti ao evento online numa transmissão com péssimo som.

Ali estava nitidamente Santa Maria da Feira: um barco encalhado, comandado por um capitão com fraca voz, rodeado de pretendentes ao lugar e muita festa.

Um barco encalhado que deveria estar a navegar hoje no caminho do progresso. Deveria ter um destino certo. Deveria estar a navegar aproveitando todos os ventos favoráveis que pudesse.

No entanto, ali está encalhado por tanta indefinição de rumo. Este barco chamado Feira nunca percebeu que nem todos os ventos são os melhores para navegar.

Em cima um capitão com fraca voz. Um capitão incapaz de projetar a sua voz para além do seu barco. Incapaz de amedrontar os outro barcos. Incapaz de impor respeito aos outros capitães.

Um capitão que vê os outros passarem por ele e finge não ver.

Ao lado um conjunto de pretendentes ao lugar do capitão. Pretendentes fingindo-se vassalos e aprendizes de capitão. O que não falta são piratas disfarçados de marinheiros de água doce.

E festa, muita festa. Festa para entreter os marinheiros que içam as velas, que remam quando não há vento, que esfregam o convés, que fazem o seu melhor para o barco navegar.

Infelizmente a musica e a dança, o aceno de cabeça do capitão e algumas mordomias, são suficientes para fazer querer que tudo está bem. Para fazer querer que em breve a Feira chegará a bom porto e que não está encalhada.

Infelizmente poderá ali ficar muitos anos  a ser cada vez mais um palco e cada vez menos um rumo.

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Daniel João Santos
COLUNISTA
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