“O Concelho precisa de se libertar de meio século de gestão PSD”
Entrevista Política

“O Concelho precisa de se libertar de meio século de gestão PSD”

Bastante crítico da atuação do executivo camarário, Eduardo Couto visa Amadeu Albergaria por preferir “apostar em asfalto e promessas megalómanas dos antecessores”, enquanto Santa Maria da Feira “está estagnada”. O eleito coordenador da Comissão Concelhia do Bloco de Esquerda de Santa Maria da Feira, aos 22 anos, promete, neste mandato, devolver a esperança aos feirenses

CF – Foi eleito, no passado mês de fevereiro, coordenador da Comissão Concelhia do Bloco de Esquerda de Santa Maria da Feira. Como descreve a nova Concelhia?

Eduardo Couto –A melhor palavra é certamente simbiose. Uma simbiose bastante robusta, que alia novos quadros políticos no Concelho com anos de militância de camaradas que lutam ao nosso lado praticamente desde a fundação do partido. Esta renovação é determinante para que os partidos possam aproximar-se da sociedade e vice-versa. Os feirenses podem contar com um órgão dirigente bastante combativo na defesa da qualidade de vida de quem vive e trabalha em Santa Maria da Feira.

Atualmente, como avalia a situação política e social de Santa Maria da Feira?

O Concelho precisa de se libertar deste quase meio século de gestão PSD. A continuidade das mesmas figuras políticas nos mesmos órgãos de decisão levanta bastantes preocupações numa democracia. Além disso, temos um presidente da Câmara que não foi eleito pelos feirenses e que se está a aproveitar da vitória do seu antecessor para fazer campanha para as próximas Autárquicas. Todo o processo de ‘sucessão’ do trono foi uma completa subversão dos princípios democráticos básicos. O que mais indignação causa ao Bloco é que este processo, à semelhança de quando Emídio Sousa assumiu o cargo de presidente, após a saída de Alfredo Henriques, é premeditado. O PSD tem medo de ir a eleições sem antes lançar o seu ‘delfim’ na presidência, o que revela cobardia.

Quais são os principais desafios que o Concelho enfrenta?

Santa Maria da Feira está profundamente estagnada. Vivemos num Concelho repleto de desigualdades sociais, onde o preço da água é um dos mais caros do país e onde um salário mínimo mal dá para pagar a renda de um T2 na periferia.

Enquanto concelhos vizinhos apostam em habitação a custos controlados, em espaços verdes de qualidade, em atração de postos de trabalho bem remunerados ou em serviços públicos funcionais, Amadeu Albergaria prefere apostar na política de mais do mesmo: asfalto e promessas megalómanas dos seus antecessores que nunca saem do papel. A população do Concelho continua sem uma terceira escola secundária, sem um Centro Coordenador de Transportes no centro do Concelho e sem uma ferrovia minimamente digna.

O que espera alcançar no final do mandato (2025-27) à frente da CCC do BE da Feira?

O maior foco deste mandato é devolver a esperança a quem vive e trabalha em Santa Maria da Feira. Os feirenses devem saber que podem contar com o Bloco de Esquerda no seu dia a dia. Devemos ser reconhecidos como o partido que está ao lado dos anseios dos munícipes, desde a denúncia de mais um crime ambiental até à defesa da implementação de uma passadeira na rua. O Bloco tem de ser reconhecido pela população como a voz mais audível perante o saque que a Indaqua lhes faz todos os meses.

Ambicionamos ser uma plataforma de encontros de anseios por uma cidadania que pugne por mais transparência e rigor na gestão política e pública camarária.

Nas Autárquicas de 2021, o Bloco de Esquerda afirmou-se como a terceira força política no Município. Alcançaram 3,72% de votos, ultrapassando o CDS. Embora ainda não tenham candidato definido, o que é que os feirenses podem esperar do rosto principal do partido às próximas Autárquicas?

Há um movimento amplo que está em processo de diálogo com forças políticas à esquerda do bloco central no Concelho, para uma plataforma eleitoral alargada. Estamos ainda em contactos permanentes com figuras externas aos partidos que possam somar os seus contributos a esta campanha que se avizinha. Precisamente por este processo ainda estar a decorrer, ainda não estamos em condições de avançar com candidatos. Mas posso garantir: os feirenses terão candidatos da esfera política do BE à altura do desafio de contribuírem para retirar a direita do poder – com ou sem movimento alargado.

Vão apresentar candidatos a todas as Juntas de Freguesia?

Depende de como decorrerá o processo negocial com as demais forças políticas do Concelho e independentes da área progressista. Mas iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para apresentar candidaturas com substância e qualidade no maior número de localidades possível.

O Bloco de Esquerda tem sido uma voz ativa no que concerne aos direitos dos trabalhadores, nomeadamente, mais recentemente, nos casos referentes aos salários em atraso dos funcionários da empresa Limac, localizada em Arrifana, e o encerramento da fábrica Reguila, de Santa Maria da Feira, que deixa várias dezenas de pessoas sem emprego. Que solução propõem para estas questões?

A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira tem de assumir que é seu dever reforçar o Estado Social no Concelho. Urge criar com urgência um Fundo de Emergencial Social que possa proteger a nova vaga de desempregados no território. Chegam-nos praticamente todas as semanas notícias de despedimentos coletivos ou de eventuais falências em quase todas as indústrias, especialmente a do calçado. Há relatos de famílias inteiras que ficam sem o rendimento do seu trabalho, algumas com filhos. Este caos social tem de ser combatido com políticas públicas e coragem política. É tempo de a Câmara fazer pressão junto do Governo central pelo reforço dos meios da ACT e por respostas governamentais pela defesa do emprego estável e com direitos.

Amadeu Albergaria tem de admitir que o plano de atrair mão de obra mal remunerada para o Concelho foi um falhanço total e que os resultados estão à vista de todos.

Assine agora
Márcia Soares
JORNALISTA | Licenciada em Ciências da Comunicação. A ouvir e partilhar as emoções vividas pelas gentes da nossa terra desde 2019.
    X