Como habitual, preparei-me para voltar à Escola industrial e Comercial de S. João da Madeira. Estava a frequentar o 2.º ano do curso geral de Formação Feminina e quando cheguei à escola, senti um pequeno ‘burburim’. Não há aulas… golpe de estado. Pensei: Golpe de Estado? O que é isso? Os meus simples 14 anos não davam para tal entendimento.
Enquanto todos saíam da escola, deixei-me ficar, até que apareceu o meu pai preocupado para me levar para casa.
Comecei por estar atenta às notícias e aí sim, comecei a perceber o que se estava a passar. Com o passar dos dias, comecei a ter noção do que era o tempo da ditadura. Contudo, senti-me uma pessoa feliz.
Não precisei de andar na escola dividida por ensino feminino/masculino; vivia num lugar onde apenas havia uma escola e uma sala. Como éramos tão felizes, todos em conjunto… uma professora para quatro anos de escolaridade.
Passando para a Escola Industrial, apesar de estar no curso geral de Formação Feminina, tínhamos liberdade de frequentar a disciplina de Educação Física com os colegas do curso geral de Mecânica e de Eletricidade.
Com o passar dos tempos, nunca me senti discriminada por ser mulher e a nível de vencimento, ganhei tanto como um homem com o mesmo tempo de serviço e habilitações.
Como mulher, nunca me deixei enfraquecer, afinal não somos todos iguais? Não temos as mesmas competências e valores? Por isso, em 2013, candidatei-me ao executivo da Junta de Freguesia de Escapães e venci. Nesse mandato éramos três orgulhosas mulheres no concelho de Santa Maria da Feira sob a maioria dos homens.
Veio o mandato 2017/21 e fiquei a única mulher em Santa Maria da Feira. Orgulho? Talvez sim, mas triste por não haver mais mulheres com garra.
Mandato 2021/25, eu e a colega de Rio Meão. Duas mulheres demonstraram que são capazes. Somos guerreiras, conseguimos ser presidentes de Junta de Freguesia, mães, avós e esposas.
A vontade é sempre querer!
Cumprir Abril é tarefa sempre inacabada, porque imperfeito, mas, ao mesmo tempo, um constante e estimulante desafio para garantir que nunca mais se poderá voltar.
