O Voto da Revolta 
Opinião

O Voto da Revolta 

Existe um escalar de revolta nos Portugueses. Já não acreditam nas promessas dos mesmos e querem uma alternativa revolucionária. Veem no partido CHEGA uma alternativa fiável e única para o salvamento da Pátria e gritam ‘a plenos pulmões’ que lhes é devida essa oportunidade.

Então é desta fiabilidade que vamos agora discutir. A fiabilidade refere-se à confiabilidade, credibilidade ou capacidade de um sistema, processo ou de alguém manter consistentemente um desempenho estável e preciso ao longo do tempo. É a medida da confiança na consistência e na precisão de algo. A fiabilidade acarreta, na sua essência, uma matriz experimental que é minimizada ao longo do tempo e que, em final de linha, possibilita o melhor resultado possível.

O partido CHEGA foi fundado em abril de 2019 e, nesse mesmo ano, consegue a representação na Assembleia da República com um deputado. Em 2022 consegue eleger 12 deputados para a Assembleia da República. A grande questão é esta: o que é que foi feito em concreto pelos seus deputados, pelos seus representantes e por todos os seus filiados e simpatizantes, para além de apontar e criticar o óbvio?

A credibilidade ganha-se no pequeno território, no trabalho voluntário para a comunidade. É nas instituições sociais, culturais, desportivas, etnográficas, ambientais e financeiras que se ganha a experiência associativa vital e necessária para os altos voos políticos a que se querem propor.

O que se assiste é exatamente o oposto. Apareceram em força nos pequenos territórios aquando das eleições autárquicas, fizeram listas à pressa em tudo o que era freguesia e, como que por magia, desapareceram do mapa político desses mesmos territórios e, desses mesmos, não se lhes conhece o rasto. Não estão nas associações, não estão nas assembleias de freguesia, não estão nas assembleias municipais, não estão nas rádios locais, não se vê o seu paradeiro junto da comunidade…onde andam eles afinal?

Vemos as nossas ruas carregadas de propaganda, vemos as redes sociais inundadas de frases fortes contra a corrupção e a imigração, vemos vídeos com tudo aquilo que queremos ouvir, mas e ver? O que fizeram os milhares de apoiantes do partido? Onde podemos encontrar o seu trabalho na sociedade? Que experiência levarão na algibeira aquando das eleições legislativas de março?

Hoje vivemos períodos estranhos onde tudo criticamos, tudo exigimos, mas pouco ou nada fazemos. Queremos as ruas limpas mas somos os primeiros a atirar o papel para o chão, queremos escolas eficientes mas somos os primeiros a criticar o papel da escola em casa, queremos menos imigrantes mas queremos férias em Portugal a preços de saldo, queremos colocar barreiras nas fronteiras mas queremos manter os cofres da Segurança Social equilibrados, queremos menos corrupção mas somos os primeiros a levar rolos de papel higiénico da empresa onde trabalhamos, queremos igualdade para todos mas somos os primeiros a espezinhar seja quem for para atingirmos os nossos propósitos, queremos o sucesso coletivo mas vivemos centrados no nosso próprio umbigo.

Para que possamos ter uma voz de revolta na política temos obrigatoriamente de ter um papel ativo na sociedade. Se queremos criticar e revoltar-nos, primeiro temos de fazer. Para sabermos dar valor, para sabermos o seu custo, para sabermos quantificar o tempo e a dificuldade, para aprendermos a errar e para entendermos, de uma vez por todas, que a política e os seus resultados são diretamente proporcionais à contribuição social.

Os políticos são formados nas nossas escolas, nas nossas famílias, nas nossas ruas, nas nossas comunidades. Se queremos político fiáveis, eficientes e preparados para o nosso País, temos de ser mais exigentes connosco próprios. Muito se discute à mesa, muita raiva se escreve nas redes sociais, muito ódio se destila nos cafés, mas, infelizmente, pouco ou nada se faz no terreno. De nada vale o queixume em querer alterar os resultados se mantemos sempre os mesmos padrões de rotina. Se queremos arregaçar as mangas que seja para trabalhar em prol de todos e não para ir à luta com soldados ocos e sem qualquer fiabilidade!

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Tiago Afonso

contributor
Violinista e professor
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