Orgulho feirense ferido
Opinião

Orgulho feirense ferido

O CD Feirense não pode ser um negócio que ponha em causa a sua identidade desportiva. O orgulho feirense está ferido…

O CD Feirense está dotado de excelentes instalações desportivas, tendo alcançado a nível local, regional e nacional, uma dimensão desportiva invejável. Estando iminente a conclusão do seu Complexo Desportivo, onde já possui uma piscina coberta de 25m, destinada a apoiar a natação do clube, um ginásio, um restaurante, dois campos de futebol em piso sintético e dois campos de futebol em piso relvado. Prevê-se ainda, de iniciativa municipal, a recuperação da pista de atletismo em piso sintético, do campo do Grupo Desportivo de Sanfins, situado a cerca de 300m.


É verdade que há 30 anos, 1993, faltava quase tudo em termos de condições de prática desportiva. O crescimento das infraestruturas, que hoje estão à disposição das camadas jovens, é de excelência. Apesar dos elevados investimentos, tudo isto foi feito com contas certas, apanágio das sucessivas Direções, com particular destaque para o Presidente Rodrigo Nunes, cuja entrega e dedicação ao clube tem sido inexcedível.


As presentes condições permitem aos jovens entrarem com cinco/seis anos e terem formação até aos 18 anos. Durante esses 30 anos, registaram-se desportivamente subidas à 1.ª Divisão. A nível financeiro, fruto do excelente trabalho na Formação, resultou na venda de alguns jogadores que proporcionaram preciosas receitas que ajudaram a apressar a conclusão do Complexo Desportivo.


No decorrer deste percurso, foi constituída a SAD/Feirense, que assumiu em exclusivo o Futebol Profissional, retirando a intervenção e influência direta da massa associativa e Direção nos destinos da equipa principal de Futebol. Com este modelo de gestão, a concretização dos grandes objectivos e sonhos dos sócios ficaram nas mãos de interesses alheios (SAD) por vezes, contrários aos do C.D. Feirense. Estando o clube nas mãos de uma SAD, o Futebol Profissional, começou a perder a paixão desportiva dos seus sócios e simpatizantes, passando a ser um espectáculo, que não é mais do que uma operação financeira, que se não tiver rigor contabilístico, passa a ser um negócio!


Vejamos o que está a acontecer no arranque do Futebol na presente época 23/24:
A criação BSAD, que usurpara a legítima posição do autêntico e histórico “Os Belenenses”, é agora, de estranhos financiadores dessa coisa, (BSAD) e que vai deitar as mãos ao Cova da Piedade.
Ao mesmo tempo, o desaparecido Aves, vai ressuscitar à custa do antigo União Desportiva Vilafranquense, mudando de nome, que passará a ser Aves Futebol Clube SAD, embora mantendo as cores vermelha e branca do equipamento. Mais um clube histórico que se descaracteriza.
Mas os casos, não ficam por aqui, temos um novo ‘estereotipo’ chamada Länk Vilaverdense. Ou seja, um “Fundo de Direitos Desportivos Canadiano”, apodera-se do clube local de Vila Verde, trocando-lhe o emblema pelo seu logotipo que acrescentou ao nome original! Chama-se a isto ‘Caos no Futebol’.


Entretanto, outros negociantes lançaram a voracidade dos seus apetites ao antigo e popular Estrela da Amadora, falido em 2011. Também aqui se mudou o nome para Clube Football Estrela da Amadora que subiu à 1.ª liga, onde só tem as vestes do anterior e legítimo clube, porque de clube, no meu entendimento não ter nada de identitário.


Na selva do Futebol, (pois vale a Lei do mais forte), os tais fundos compram emblemas e as cores originais, ou sacam o interesse de domínio público em meras operações financeiras. Esses predadores lançam as suas garras sobre os clubes mais debilitados, esvaziados do sentido cuja ligação às comunidades donde emergiam, nada têm de desportivo, desprezando qualquer interesse pelo futebol e sua massa associativa. De forma resumida, estas SAD’s são puras operadoras financeiras no negócio dos ‘Direitos Desportivos’.


Aqui chegados, estranha-se o silêncio dos reguladores do Futebol perante estas realidades. Os escândalos verificados em alguns clubes e academias, deviam fazer tocar as campainhas de alarme da impunidade com tantas traficâncias. Também, a dita informação/comunicação social desportiva, parece ter fechado os olhos. Depois, ficam hipocritamente perplexos quando olham para os estádios veem que eles estão às moscas.


Por outro lado, os clubes de dimensão distrital, têm mais assistência que muitos clubes da 2ª Liga! Sou simpatizante do CD Feirense, União de Lamas e Lourosa, porque tive o privilégio de ter vestido as camisolas desses clubes. Quando acompanho os jogos de Futebol do Lourosa e do Lamas, sinto que nas bancadas se respira paixão pelo Futebol. O mesmo não acontece nos jogos do CD Feirense! Porque será? Na minha modesta opinião, os sócios do Feirense não se identificam com a sua equipa sénior e estando a perder o interesse em o acompanhar, porque estão a perder a paixão pelo clube!


Hoje, o CD Feirense tem excelentes instalações para a Formação. Pergunta-se, que resultados desportivos está a tirar para a equipa sénior? Não faltam condições, mas a qualidade tarda em aparecer na primeira equipa, porquê? Quantos jogadores do futebol- formação estão ou passaram pela primeira equipa nos últimos 10 anos?


É tempo de repensar a SAD, se os interesses desportivos de CD Feirense não estejam a ser salvaguardados, com a ‘comercialização da SAD’. Em todo o caso, deve ser ponderada a possibilidade em fazer cair a SAD e regressar às origens, onde há paixão!


A manter-se este modelo de SAD na gestão do futebol sénior do CD Feirense o caminho seguido vai em direção ao abismo, ou seja, à sua extinção. Vejamos os exemplos da BSad, do Vilafranquense, do Desportivo das Aves, do Vilaverdense e do Estrela da Amadora.

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António Cardoso

Antonio Cardoso
COLUNISTA
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