Retenção ineficaz: Do Corpo Lusitano para o Exterior
Opinião

Retenção ineficaz: Do Corpo Lusitano para o Exterior

A Emigração de Jovens Portugueses tem sido alvo de atenção e discussão nas passadas semanas. As capas da Imprensa inundaram-se de manchetes, estatísticas e de factos, curiosos, deste assunto. O porquê e as razões que levam a tal será o mote deste artigo.

De acordo com dados do Observatório da Emigração (OE), aproximadamente 30% da população nascida em Portugal, com idades compreendidas entre os 15 e os 39 anos, decidiram dizer “Sim” à emigração. Nada mais nada menos que quase um milhão de pessoas. O coordenador científico do OE, Rui Pena Pires, releva que este número é elevado e com um efeito complexo na fecundidade. Os nascimentos de filhos de mãe portuguesa no estrangeiro “já equivalem a cerca de 20% do total de nascimentos em Portugal”, revelou.

Aliás, não é à toa que Portugal é o país com a taxa de emigração mais elevada da Europa, ocupando posições cimeiras a nível Mundial. Em termos temporais, a emigração atingiu grandes níveis entre 2010 e 2019, com o seu ponto mais elevado a registar-se em 2013, com 120 mil portugueses a deixarem o país (in ECO SAPO & Rádio Observador). Para deteriorar a situação, cerca de um terço das mulheres em idade fértil estão a viver fora de Portugal (in SIC Notícias).

Mas afinal, qual o motivo para tal? O contexto português oferece boas Universidades, uma diversidade ampla de Cursos Superiores com uma abordagem prática aplicado ao Mercado de Trabalho. Para complementar, nos últimos anos temos vindo a assistir ao surgimento das Business Schools, escolas de negócios com formações especializadas e com um corpo docente experiente e conhecedor. Tudo em conformidade para dar certo, correto?

ERRADO! De pouco adianta ser realizada esta aposta na Educação do Cidadão Português se depois todo este investimento saí do País. A realidade é que o tecido empresarial português ainda está muito acostumado à mentalidade do século passado: pessoal pouco qualificado, capaz de ser moldado sem dificuldade às necessidades específicas de cada empresa, e sem questionar o porquê das ordens e instruções dadas. Desde salários baixos, desadequados às qualificações do trabalhador (idiomas, soft skills, conhecimentos técnicos e práticos…para não falar do nível de educação, que a meu ver é o aspeto mais subestimado) até às condições precárias ao nível de subsídios e incentivos (este tópico vai além do simples incentivo monetário).

Fala-se muito da “Escola da Vida”, a meu ver um jargão algo sobrevalorizado. De que vale ter vinte anos, ou mais, de experiência se não se tem, a título de exemplo, conhecimentos de informática essenciais e inerentes à função desempenhada. Daí, não me espanta que muitos jovens procurem uma outra nação. Uma que dê o real valor às suas competências e saber. A “Escola da Vida” acaba por ser um dos principais responsáveis pelo envelhecimento da população qualificada em Portugal. A continuar assim, daqui a uns anos não teremos pessoas qualificadas e, acima de tudo, dotadas para governar o nosso país.

Dito isto, não é de espantar que Portugal seja conhecido como o país “Cauda da Europa”. Uma nação tradicionalista e conservadora, resistente à mudança e inovação. Que sejamos reconhecidos por algo muito maior que o Cristiano Ronaldo ou a Francesinha. Um forte apelo a que isto mude no futuro. Nem de propósito, as eleições estão à porta!

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Gustavo Tavares Pé D'Arca
COLUNISTA
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