À última, mas o Feirense cumpre os serviços mínimos na época 2023/24, ao garantir a manutenção. Sérgio Conceição foi absolutamente decisivo no play-off frente ao Lourosa (3-0), ao marcar dois golos e estar envolvido no terceiro
O ‘S’ é de ‘Sérgio’, mas, neste caso, bem podia ser de ‘São’. Conceição já era o principal destaque positivo da turbulenta época do Feirense, que terminou num play-off para tentar garantir a manutenção na Segunda Liga, frente ao eterno rival e vizinho Lourosa. Estranhamente, ficou no banco no jogo da primeira mão, em Lourosa (vitória dos da casa, por 1-0), mas retomou a titularidade na decisiva segunda mão e fez questão de provar que, neste Feirense, é dentro das quatro linhas que tem de estar.
Sérgio Conceição marcou os dois primeiros golos do Feirense e ainda foi ele que fez o cruzamento que viria a resultar no terceiro golo (autogolo de Henrique Martins).
Mas o ala direito foi apenas o ator principal de um dia de festa, numa época em que os fogaceiros tiveram poucos ou nenhuns motivos para festejar. Ainda antes do apito inicial, o ambiente em redor do Marcolino Castro era já de entusiasmo. As bebidas e comida eram por conta da SAD e a receção aos atletas foi, no mínimo, inspiradora. Nas bancadas (repletas), com muitos ilustres feirenses, não havia pró-clube ou pró-SAD (como tantas vezes aconteceu ao longo da época), apenas o Feirense e apoio nunca faltou.
Ao intervalo, subiram ao relvado os sub-19 do Feirense, recentemente consagrados campeões nacionais da 2.ª divisão do escalão, para receberem a merecida ovação. No final, a festa, como muita emoção também à mistura, foi apoteótica, indescritível de um lado, festejos e lágrimas de alegria, de um Feirense que acaba por ‘salvar’ a época, do outro lágrimas de tristeza e frustração, de um Lourosa que vê o sonho de subir aos campeonatos profissionais ‘morrer à beira da praia’.
Alívio e… nova reconstrução?
No meio da felicidade, terá havido também uma sensação de alívio entre todos os responsáveis pela época 2023/24 do Feirense, que teve tudo para correr mal, esteve quase para correr ainda piorar (haveria pior forma de descer do que contra um rival concelhio?), mas terminou em salvação no último momento.
Para a época que agora terminou, o Feirense construiu uma equipa praticamente nova — com notório novo desinvestimento —, a vigente ‘paz podre’ entre SAD e clube transformou-se em ‘guerra aberta’ e resultou em impedimento de utilização do estádio e complexo por parte da equipa sénior (começou o campeonato a jogar em casas emprestadas), constantes trocas de acusações e resolução (parcial ou definitiva?) em tribunal. Pelo meio, algumas contratações para tentar equilibrar um plantel claramente desequilibrado para a Liga 2 e uma troca de treinadores — Ricardo Sousa por Lito Vidigal, que apesar de ganhar apenas dois dos nove jogos realizados, venceu o mais importante.
Agora, dir-se-ia que importa aprender com os erros e fazer diferente, mas será possível? O conflito SAD vs. Clube efetivamente acalmou, mas desconhece-se até quando. Como treinador, Lito Vidigal pareceu sempre uma solução para um contexto em específico, o de manutenção. Na flash, em frente às câmaras, disse que “foi um risco aceitar” o desafio de treinar o Feirense, pediu “união”, mas confirmou “grandes divergências” entre clube e SAD. Não marcou presença na conferência de imprensa pós-jogo e a sua continuidade é uma incógnita.
No plantel, segundo o transfermarket — site de referência em questões de contratos e avaliações de jogadores —, o Feirense tem apenas cinco jogadores com contrato para a próxima época: João Costa; Filipe Almeida; Henrique Jocú; Shodipo; e Grave, este último ainda júnior, jogou apenas nos sub-19.
Dos restantes, os emprestados Diego Calai (Sporting), Guilherme Ferreira e Picas (Chaves), e Ndione (Viborg) regressam aos seus clubes, e o capitão Cláudio Silva está a caminho da Roménia. Em final de contrato, outros devem sair, à cabeça o ‘herói’ do play-off, Sérgio Conceição, que, depois de ser o mais utilizado (38 jogos), melhor marcador (seis golos) e jogador com mais assistência (dez) da época do Feirense, deverá receber propostas tentadoras para sair.
Mesmo que alguns dos jogadores em final de contrato venham a renovar, considerando também a possível promoção de alguns dos titulados ex-sub-19, o caminho de nova reconstrução parece inevitável.