O 25 de Abril ocorreu a poucos dias de completar o meu 5.º aniversário. Ainda não sabia ler nem escrever, mas já ouvia, com atenção, as histórias que à mesa os meus pais e avós contavam sobre a valentia e sagacidade das Forças Armadas.
Recordo um episódio que guardo com candura: o de estar num restaurante a comer avidamente uma mousse de chocolate instantânea e de os meus pais incentivarem-me a fazê-lo devagar, justificando a minha urgência em terminá-la com o receio de, na iminência de uma revolução, ser mobilizado para o combate.
Anos mais tarde, quis o destino que participasse na sessão evocativa dos 25 anos do 25 de Abril, enquanto deputado do CDS na Assembleia da República. Tive a companhia de dois parentes, José Gama (PPD/PSD) e Manuel Afonso Strecht Monteiro (PS). Cedo habituei-me a conviver e a respeitar a diferença de opiniões e a liberdade, mas a defender arduamente os meus valores e o meu ponto de vista.
O maior bem comum que o 25 de Abril nos legou foi, obviamente, a liberdade de sermos e de pensarmos, de nos expressarmos e de agirmos conforme a nossa consciência. O exercício da liberdade individual não pode jamais ser visto como um problema para a democracia, sob pena de para nada ter servido o 25 de Abril de 1974. O respeito pela opinião dos outros, a capacidade e o dever de saber ouvir, compreender e aceitar quem pensa de forma diferente da nossa, constituem, por si só, sinais de desenvolvimento. A liberdade é o valor predominante.
O 25 de Abril deve ser entendido com o 25 de Novembro, constituindo essas duas datas a verdadeira conquista da democracia parlamentar. Até lá, vivemos tempos de ameaças, medo, coação e terror, contra todos que ousavam denunciar ou opor-se às intenções de uma minoria organizada que sonhava com um outro tipo de totalitarismo, mais duro e feroz do que o derrubado.
A luta contra este estado de coisas foi a luta dos partidos democráticos fundadores da democracia, PS, PSD e CDS, dos militares moderados, mas, sobretudo, do povo português, que a partir do Norte deu o exemplo de resistência, tornando possível, no 25 de Novembro, parar a via totalitária da Revolução.
Cumpre-nos, agora, honrar e preservar as conquistas da Revolução e temos de fazer recordar às gerações mais novas a devolução da soberania ao povo; a nova Constituição da República; o reconhecimento do valor e da dignidade da pessoa humana; a consagração dos direitos, liberdades e garantias; a eleição livre de um Parlamento ao qual o Governo tem de prestar contas e do Presidente da República; o reconhecimento dos valores humanistas e inclusivos; o estabelecimento da paz e o reconhecimento do direito dos povos à sua autodeterminação; a abertura de Portugal ao mundo; a criação de condições para reformas estruturais da sociedade; a universalidade do acesso ao ensino; o renascimento da expressão artística e cultural; o início do movimento de reivindicação dos direitos das mulheres e das minorias; e o aumento significativo na qualidade de vida dos portugueses.
Não basta implantar um regime sobre os escombros de um regime apodrecido. Há que zelar para que se mantenha vivo e sólido. Caso contrário, mais cedo do que se possa pensar, será sobre os seus escombros – também apodrecidos – que um outro regime se virá a erguer; uma democracia que adormece, acorda ditadura. Saibamos honrar Abril!”