A cooperação entre concelhos de um dado território (Entre Douro e Vouga) e o seu alargamento a um outro mais amplo (região Porto e Norte de Portugal) foi apontada como hipótese ou possível resposta para a intensificação do turismo no concelho, enquanto fator mobilizador de negócios em setores como a restauração e a hotelaria, mas também o da indústria, comércio e serviços.
Realçaram-se alguns tipos previsíveis de resistência ao desenvolvimento desta abordagem de gestão (trabalho em rede) e de entre os quais importará enfatizar, a dificuldade em se atribuir maior peso às vantagens associadas a uma atitude de cooperação com terceiros do que ao desconforto decorrente de uma generalizada falta de confiança nos outros; à perceção que temos quanto às dificuldades inerentes a processos de negociação (quem faz o quê e quem ganha o quê) e ao que se pode considerar “diferenças de linguagem” que se por um lado, conferem a cada concelho unidade interna e caráter diferenciador, ou seja; a tal identidade desejada, por outro, dificultam o entrosamento com o exterior.
Na expectativa de se contribuir para a compreensão deste conceito, imagine-se o ser humano na sua vivência em sociedade. A sua carga genética, o conjunto de referências familiares e sócio culturais, a formação recebida, as experiências pessoais e profissionais vividas, o seu caráter e traços físicos… diferenciam-no de todos os outros. As características que o definem influenciam a forma como pensa, sente e age. Ao interagir com terceiros, é necessário que tenha uma atitude de abertura ao outro, persistência e predisposição para fazer cedências.
Os consensos entre municípios e regiões sobre áreas de interesse comuns permitem a obtenção de efeitos sinérgicos e economias de escala fundamentais para que possam ser mais sustentáveis e competitivos. Assim sendo, importa que neste outro plano (o dos territórios) se consiga também diluir o impacto, quer de fenómenos de resistência interna ao que é externo, quer de outros não correlacionáveis, entre os atores envolvidos, com vista ao diálogo e a uma efetiva comunicação, geradora de decisões que a todos beneficiem.
A captação de turistas ao longo do ano e a respetiva retenção no território, pode mesmo assentar numa estratégia de agregação regional dos melhores recursos inatos e criados em ofertas culturais, naturais e de animação. Por outro lado, importa haver a consciência para o facto de o trabalho em rede, além de promover a aprendizagem no seu sentido tático (aprende-se na interação com os outros novas soluções para os problemas, novas formas de se desenvolver processos, etc.), fomenta a inovação, inovação esta que terá de ser sistemática, tendo em conta a competitividade entre territórios, o caráter efémero da inovação, sobretudo ao nível de eventos, e a facilidade com que os turistas acedem a ofertas de outros territórios a um nível que não é somente nacional, mas global.
Além do mais, o momento é oportuno. Para a cidade do Porto já se fala de over-tourism em certos lugares, os preços praticados quer pelos alojamentos, quer pelos espaços de restauração…refletem essa situação. Mais a mais, como se viu no artigo anterior, a ATPNP-Associação de Turismo do Porto e Norte de Portugal pretende coligir dados que permitam otimizar as estratégias de captação e de retenção de turistas. Procuram-se novos mercados e, em particular, turistas com maior disponibilidade financeira que venham conhecer o Norte de Portugal, num registo de maior aprofundamento, diferente dos que visitam Lisboa e Porto no âmbito dos chamados city- break, numa corrida contra o tempo e em que se visitam sempre os mesmíssimos recursos.
Uma outra reflexão que se impõe aqui, remete para uma prática de certa forma em desuso pelas entidades gestoras de recursos culturais e que se prende com a interpretação associada às visitas, ou seja; o acompanhamento destas últimas por parte de “guias” devidamente habilitados para os explicar…Não é um tópico de resolução fácil. Os custos com recursos humanos são elevados…Mas que podem fazer a diferença, podem. Proporcionar experiências ricas em sentido e geradoras de emoções, no contexto de visitas aos recursos turísticos, é fundamental, sobretudo se cada um de nós tiver a humildade de aceitar que quando nos explicam uma determinada obra artística, esta assume contornos e perspetivas que jamais lhes atribuiríamos, na ausência de conhecimento sobre o contexto político, económico, social e cultural em que surge, a fase de vida do autor, as respetivas características pessoais, as tendências artísticas da época, a simbologia religiosa ou outra que lhe esteja associada, etc.
Claro, que hoje em dia, podemos levar connosco livros, retirar informações do Google, aceder a informação previamente gravada, através de auriculares, existem legendas mais ou menos extensas junto às obras… mas será que a experiência é qualitativamente igual?… Além do mais, a introdução de tecnologias, nos recursos é inclusive considerada um tipo de inovação que ao proporcionar experiências imersivas, em 4D, entre outras, fomenta a captação de públicos mais jovens e motiva segundas visitas, a um mesmo recurso, tendo em conta o potencial de experienciação de novas emoções. Veja-se o caso do Empire State Building. Visitá-lo no passado (anos 90, por exemplo) ou agora, é diferente. Os respetivos elevadores passaram a integrar a experiência da visita ao edifício, mediante a projeção em 4D da história da respetiva construção, durante a subida, e da obra-prima Art Déco, na descida. Com o desenvolvimento da inteligência artificial, o uso de técnicas de elevada complexidade e sofisticação associadas ao conhecimento da história, por via do património, oferece-nos, com toda a certeza, um valor acrescentado difícil de declinar e que só o apego a um anacronismo estéril, o poderia justificar.
Todavia, estes instrumentos, ao serviço do reforço da atratividade dos recursos, não colidem com a função do storyteller enquanto ator ao qual compete fomentar a interação dos visitantes no local, “contar a história e as histórias do que se visita”, um profissional capaz de promover uma relação única e dinâmica com os visitantes. Essa vertente humanizada da visita potencia a experiência, ao torna-la espaço de aprendizagem e partilha, ao dotá-la de rigor histórico sem que por isso fique destituída de humor e leveza, ao permitir adaptá-la a públicos de diferentes perfis. A interpretação valorizada pelo carisma e emoção empregue pelo narrador pode reforçar os níveis de envolvimento e satisfação com a experiência e potenciar o fenómeno de divulgação da mesma junto de familiares, amigos e conhecidos. Ao contextualizar-se os recursos interpretados, promove-se a preservação e utilização social do património em detrimento de uma análise perspetivada individualmente. A par da contemplação e compreensão do património, a interpretação favorece a descoberta de relações entre os recursos e a interação com os visitantes, mobilizando-se fatores que vão ao encontro dos respetivos valores, interesses e atitudes.
Os meios de apresentação e de animação ao serviço do reforço da atratividade da oferta turística são, pois, diversos, o mais importante é saber-se eleger os mais adequados a cada caso; conjugá-los de forma eficiente e com eficácia.
No último artigo desta sequela, apresentar-se-á uma short version dos quatro anteriores. Não que o tema se tenha esgotado. Longe disso. Mas porque a intenção foi tão somente, suscitar junto dos que tiveram paciência de os ler, as suas próprias reflexões e …claro, a predisposição para se investir no futuro da Cidade Encantada.