Márcio Correia. Candidato do PS à Câmara Municipal de Santa Maria da Feira
Candidato em 2021, obteve o pior resultado do PS em Santa Maria da Feira, mas volta a ser o escolhido pela Concelhia do partido para disputar o lugar de presidente nas autárquicas, ocupado por social-democratas há quase meio século.
Advogado de profissão e vereador da Oposição, Márcio Correia quer acabar com o domínio incontestável do PSD, considerando que o presente mandato, dividido entre Emídio Sousa e Amadeu Albergaria, a quem tece várias críticas, foi desperdiçado.
Opina que as Juntas são tratadas de forma desigual, promete “trabalho e luta” em prol “do desenvolvimento e da qualidade de vida” do Concelho e assegura que irá apresentar “excelentes candidatos” para ganhar em todas as freguesias, ainda que não revele qualquer nome no momento, assim como quanto à vereação ou à Assembleia.
Admite que “o PSD é favorito”, mas quer surpreender, ao estilo de ‘David contra Golias’ e promete dialogar com todos os partidos para eventuais coligações pós-Autárquicas – com exceção, é claro, do PSD. “É muito negativo que exista um partido que se considere dono de tudo e de todos”, critica.
CF – Volvidos quatro anos desde as últimas Autárquicas, vencidas pelo PSD, o que mudou no concelho de Santa Maria da Feira?
Márcio Correia – Infelizmente, está quase tudo igual. Decorridos quatro anos, temos o Concelho estagnado. Apesar de o poeta nos lembrar que ‘todo o mundo é composto de mudança’, no Concelho são poucas as mudanças. Em termos de melhoria da qualidade de vida das pessoas, nada ou quase nada. Em termos de equipamentos e infraestruturas, nada ou quase nada. Em termos de uma Câmara Municipal mais dinâmica e efetivamente ao serviço de todos, nada ou quase nada. Quatro anos perdidos.
Um mandato iniciado por Emídio Sousa, que interrompeu a sua presidência para integrar a Assembleia da República, e concluído por Amadeu Albergaria. Que comparação faz da atuação de ambos?
São dois políticos profissionais e por isso muito semelhantes. Um é eleito para quatro anos, mas abandona o ‘barco’ a pensar exclusivamente nos seus interesses e futuro político. O outro agarra-se ao poder que herdou, sem ter sido eleito para o cargo, a pensar exclusivamente nos seus interesses e futuro político. Permita-me que esclareça: esta afirmação, mais que uma crítica, é uma triste constatação da realidade.
Antes das eleições de 2021, apontou como aspetos negativos da governação social-democrata, entre outros, as condições de acessibilidade às zonas industriais e a falta de apoio camarário ao associativismo e ao desporto. Mantém essa opinião?
É possível fazer mais e melhor. A Câmara pode ser o motor de desenvolvimento e passar a estar verdadeiramente ao serviço das instituições e das pessoas do Concelho. As zonas industriais, quer em termos de acessibilidade quer de equipamentos, estão muito aquém. Temos, e ainda bem, é investimento privado no Concelho, em termos imobiliários, por ser um dos mais baratos da Área Metropolitana do Porto, e é só por isso que ainda temos empresas a escolherem o Concelho, preferindo uma zona industrial privada. As nossas associações e clubes, pelo trabalho que fazem, merecem muito mais apoio que aquele que lhes tem sido dado. O mesmo digo em relação às Juntas de Freguesia, que são tratadas de forma desigual.
Quanto aos resultados, obteve o pior do PS neste século em Santa Maria da Feira para a Câmara Municipal. O que o motiva a recandidatar-se?
Os resultados do PS foram negativos em todas eleições autárquicas desde 1976. As de 2021 foram as mais difíceis de sempre para o PS em Santa Maria da Feira. A responsabilidade maior foi minha, foi muito difícil preparar uma campanha em situação pandémica. O que me motiva a continuar é o amor à nossa terra. Estou disposto a dedicar uma parte da minha vida ao trabalho e à luta pelo desenvolvimento e qualidade de vida no nosso Concelho, se os feirenses assim entenderem. Seria mais fácil continuar a atividade profissional que exerço com êxito. Penso que todos temos o dever cívico de dar o nosso contributo para o bem comum e para o bem da nossa terra.
“PSD é favorito, mas…”
Alcançou 30,09% dos votos (21.026), elegendo quatro vereadores, contra os 48,91% do PSD (34.177 votos), que elegeu sete. Qual o objetivo para 2025?
O PSD é favorito a vencer as eleições, mas todos já vimos grandes derrotas dos favoritos. Queremos fazer a melhor campanha possível. Explicar a importância de uma mudança profunda na forma de gerir a Câmara Municipal para que possa ser um motor de desenvolvimento e de qualidade de vida para todos. Só temos um único objetivo: vencer a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
Os vereadores Délio Carquejo, Sérgio Cirino e Manuela Alves são nomes que voltarão a integrar o topo da lista do PS para estas eleições? Há mudanças?
É demasiado cedo para falar em nomes. Cada coisa a seu tempo. Em primeiro lugar, o PS tem uma excelente equipa de vereação. É uma equipa coesa, unida, bem preparada e que tem demonstrado capacidade para concretizar um trabalho excelente caso fôssemos vereadores executivos. A nossa posição política é sempre de apresentar a solução aos problemas. As nossas posições são positivas e construtivas.
Ao fim de quase 50 anos de domínio ‘laranja’ na política feirense, acredita que irá finalmente destronar o reinado do PSD?
Essa pergunta deve ser feita a cada um dos cidadãos eleitores. O Concelho é dos feirenses e não de nenhum partido. É muito negativo que exista um partido que se considere dono de tudo e de todos. É de admitir que ao fim de 50 anos se verifique a mudança que muitos desejam.
Quais as principais medidas que farão parte do seu programa eleitoral?
Ainda estamos a prepará-lo e a realizar todos os levantamentos necessários em todas as freguesias, e a selecionar os eixos prioritários para o Concelho. Iremos apresentar um conjunto de compromissos. Estamos a recolher dados e a estudar para responder aos problemas e às necessidades mais prementes das pessoas.
Conquistar “todas as freguesias”
Em 2021, o PS conquistou duas freguesias (Nogueira da Regedoura e Sanguedo) e duas Uniões (Souto/Mosteirô e Lobão/Gião/Louredo/Guisande). Quantas almeja ganhar neste sufrágio?
Todas. Repito: todas as freguesias. Vamos apresentar excelentes candidatos, dispostos a trabalharem com total dedicação. Espero que todos consigam a confiança e o voto dos seus conterrâneos. Não há impossíveis na política. Prova disso é que em 2021 tivemos uma conquista muito importante, a União de Freguesias deLobão, Gião, Louredo e Guisande, provando-se que é possível vencer numa zona do PSD no Concelho que todos classificavam como impossível.
Relativamente aos candidatos à presidência das Juntas, que nomes pode avançar?
Ainda é cedo para dizer. A seu tempo divulgaremos todos os nomes. Garantidamente que teremos excelentes candidatos.
Pode adiantar o candidato à presidência da Assembleia Municipal (AM)?
É cedo para anunciar. O que posso garantir é que será uma pessoa de grande qualidade para ser presidente da AM. A Susana Correia, deputada na Assembleia da República, que foi candidata à AM em 2021, e os restantes membros do PS, têm realizado um excelente trabalho na AM. A coordenação da AM é total com a vereação do PS na Câmara Municipal, com ótimos resultados para os feirenses.
Abre portas a uma eventual coligação num cenário pós-eleições?
Se ganharmos como espero, dialogaremos com todas as forças políticas que se apresentarem a eleições, com natural exceção dos que agora têm o poder. Dialogaremos para estabelecer prioridades e metas a quatro anos. Perante a grandeza, a importância e as necessidades do Concelho, todos somos poucos para contribuir com ideias, propostas e sugestões para fazermos aquilo que mais falta faz. Vencer as eleições é assumir um compromisso de trabalho e dedicação com todos e para todos. Já experimentámos 50 anos de poder absoluto de um só partido. Se vencermos, será um novo tempo de poder, partilhado ao serviço de todos e com todos.
Na última campanha eleitoral, rejeitou o uso de outdoors, promovendo o reforço da política ambiental e sustentável. Voltará a fazê-lo?
Vamos fazer uma campanha pela positiva. Vamos utilizar os meios que forem considerados mais eficazes. Procuraremos gastar o menos dinheiro possível. Procuraremos, por todas as formas, a proteção do Ambiente. Faremos toda a reciclagem possível de todos os materiais que usarmos e que depois se tornem desnecessários.
Recentemente, um estudo revelou que os munícipes feirenses pagam uma das faturas de água mais elevadas de Portugal e o Márcio Correia assegura comprometer-se a “rever e ajustar as tarifas de água, saneamento e resíduos”. Como? É possível renegociar o contrato com a Indaqua?
Estamos a analisar o que pode ser feito. Importa perceber todas as razões pelas quais os feirenses pagam o abastecimento de água mais caro de todos os portugueses. Existe uma ligação complexa entre a Câmara e a empresa privada que tem a concessão da água. É difícil de entender que o presidente da Câmara defenda esta empresa, melhor que todos os seus administradores. O que posso garantir é que muito em breve explicaremos o que vai ser feito. A água é um bem da natureza e é difícil de entender que seja um negócio especulativo pago pelos feirenses.
Um dos temas que tem causado algum ‘alvoroço’ é a obra do Túnel da Cruz, com acusações entre si – que refere que o executivo da Câmara Municipal terá recuado – e o atual presidente, Amadeu Albergaria, que o acusa de tentar desinformar os feirenses. Quer deixar uma explicação?
Existem projetos que deviam estar concluídos há muito. Existem promessas que o poder municipal repete em sucessivas eleições. Agora temos projetos importantes. A Câmara lança os concursos de obra e nenhuma empresa concorre. A culpa é sempre dos outros. Este malabarismo de políticos profissionais prejudica e desacredita a Câmara e o Concelho. Parece-me que se a incompetência pagasse imposto municipal ao Município, passaríamos a ser o mais rico de todos os municípios do mundo. E já dei a lição em reunião de Câmara de como se pode evitar que os concursos públicos fiquem desertos, espero que o atual presidente a tenha aprendido.
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O candidato
Márcio Correia, advogado de 47 anos, natural de Santa Maria da Feira, tem integrado sucessivos executivos da Câmara Municipal, sendo o rosto socialista no Concelho. Uma vida ligada à política e ao associativismo, tendo sido presidente do Orfeão, membro da Federação das Coletividades e da direção da Liga dos Amigos do Hospital da Feira.
É membro da Comissão Nacional do PS, presidente do Conselho de Jurisdição da Federação de Aveiro e da Concelhia da Feira.
Estudou na Escola Primária N.º 2 da Feira, na C+S Fernando Pessoa, na Secundária da Feira e licenciou-se em Direito na Universidade Lusófona.