Viagem Medieval 2023: (Mais) um loop temporal!
Opinião

Viagem Medieval 2023: (Mais) um loop temporal!

A espera terminou! O evento (anual) mais aguardado e apreciado (provavelmente) por todos os feirenses e companhia, a Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, já está em movimento. Decorre entre os dias 2 e 13 de agosto, na Quinta do Castelo de Santa Maria da Feira e nas suas proximidades. Tal é a grandiosidade deste acontecimento, que tem sido premiado com diversos prémios e distinções, tanto num contexto nacional como internacional. Entre eles, o “Prémio Cinco Estrelas Regiões 2022” (na categoria: Festas, Feiras e Romarias), o 1º Prémio de “Melhor Evento Cultural (Prémios Eventoplus, Espanha, 2017), o 1º Prémio “Best Cultural Event” e 2º Prémio “Grand Prix Best Event Eventex”, ambos atribuídos nos Global Eventex Awards, realizado na Irlanda em 2017.

Como é conhecido, o tema de cada uma das edições da Viagem Medieval debruça-se sobre um rei, o respetivo contexto histórico e suas contribuições para o reino e a nação. A edição de 2022 marcou o fim da primeira dinastia e o início de um período, ainda que breve, de grande instabilidade para o país, conhecida como a Crise de 1383-85, originada pela inexistência de um herdeiro de sexo masculino para ocupar o trono português, após a morte do rei D. Fernando (de Portugal). D. João I, Mestre de Avis (reinado: 1385-1433), e cognominado como “O da Boa Memória”, entra em cena quando é nomeado o novo rei português nas Cortes de Coimbra. Contudo, dado o laço matrimonial entre o rei D. João I de Castela e a filha de D. Fernando, D. Beatriz, o rei de Castela decidiu invadir Portugal com o objetivo de capturar a coroa portuguesa. Depois de vários confrontos armados entre ambos os reinos, o destaque vai para a Batalha de Aljubarrota, onde os portuguesas saíram vitoriosos, graças em grande parte à tenacidade de Nuno Álvares Pereira na liderança das tropas portuguesas e à sua infame “Técnica do Quadrado”.

Mas afinal, quem foi D. João I, Mestre de Avis? Enquanto pessoa pode ser caraterizado como sendo inteligente, obstinado e, acima de tudo, metódico. Reorganizou a monarquia de uma forma autoritária e centralizadora. Parte do seu reinado é marcado pela (já longa) guerra contra Castela. Defende a independência e o fortalecimento da nação, promovendo a afirmação de uma consciência nacional. Sendo um visionário, compreende a importância da criação de laços com a Europa, que são essenciais não só para o país, como para a sua própria firmeza, prestígio e fama enquanto monarca. Laços esses que ligam o reino português ao de Inglaterra, Borgonha, de Aragão, entre outros.

O que se pode então esperar da XXVI edição da Viagem Medieval? Na sua essência, uma reprodução fiel do ambiente vivido naquela época, com recurso a diversos elementos: comércio, gastronomia, atividades lúdicas, guarda-roupa, entre outros. Em termos de áreas temáticas, são cerca de vinte, desde o Albergue do Cavaleiro, o Arraial dos Hospitalários, os Banhos de S. Jorge, a Feira Franca, o Lugar da Villa, entre muitas outras, sem esquecer a principal, o Castelo D´El Rei. O entretenimento é enriquecido pela grande quantidade de espetáculos, que tem o intuito de recriar momentos marcantes da época. Sendo um evento de cariz familiar, não se pode, de modo algum, deixar de fora atividades adequadas para crianças de todas as idades. A título exemplificativo, algumas delas passam pela prática de tiro ao arco, a cetraria, o terreiro dos ofícios e o treino dos escudeiros. De modo a fortalecer o espírito e a imersão do visitante no evento, estão presentes um conjunto de personagens históricas que deambulam pelo recinto: as alcoviteiras e alcaiotes, lavadeiras, ladrões, pedintes, vendedores e ainda pregoeiros dos feitos d´El Rei. Para este ano são ainda introduzidas um total de dezoito novidades, entre elas, o alargamento do horário do evento, o regresso dos torneios medievais e um espetáculo de videomapping.

Apresentado isto, pode-se fazer o planeamento da visita à Viagem Medieval através da consulta da informação presente no website oficial do evento (www.viagemmedieval.com). Termino com outra novidade: crianças até aos cinco anos (inclusive), assim como alunos até ao ensino secundário que estudem ou residam no Concelho, não pagam. Tal foi pensado para dar a oportunidade aos visitantes de usufruírem do evento em família, para além de motivar nos jovens e crianças o fortalecimento do sentimento de identidade e pertença em torno de uma recriação histórica que é património do Concelho e do País. Resta-me apelar para que seja uma ocasião repleta de novas experiências e de boas memórias.

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Gustavo Tavares Pé D'Arca
COLUNISTA
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