Há autarcas que são ‘incendiários passivos’ das matas florestais no Concelho
Opinião

Há autarcas que são ‘incendiários passivos’ das matas florestais no Concelho

Durante muito tempo, a gestão das nossas matas florestais, só estava preocupada com os interesses do fornecimento garantido da madeira, desvalorizando a importância dos ecossistemas de gestão florestal a si associados. Todavia, a Gestão da Floresta, tomou consciência que as florestas são sistemas complexos, onde a ecologia se cruza com os interesses sociais e económico, levando a uma alteração do paradigma da “gestão da árvore, com o seu ecossistema”. Um dos principais objetivos desse novo paradigma, passa pela melhoraria dos recursos florestais, mantendo a vitalidade e a diversidade dos ecossistemas florestais, sem esquecer as funções sociais e económicas. Estas últimas, têm um peso importante no rendimento gerado com a criação de postos de trabalho, nomeadamente em zonas rurais, onde naturalmente há maior área florestal.

Segundo os especialistas em Gestão Florestal, uma medida estruturante que deve ser aplicada obrigatoriamente, tem a ver com a rede viária das florestas. Esta infraestrutura, integrada na gestão florestal, como medida de prevenção, visa a “redução do risco dos incêndios e a sua perigosidade”. Assim, a rede viária torna-se fundamental na organização das nossas matas florestais, através da necessidade de providenciar passagem, para os povoamentos florestais, de produtos, equipamentos, maquinaria e pessoal, facilitando a gestão desses territórios, nomeadamente na retirada de produtos florestais (madeira e sobrantes), na prevenção, na “deteção e na agilização no combate a incêndios florestais”.

As nossas matas florestais são propensas a arder dependendo essencialmente, da quantidade de combustível acumulado na superfície do solo, independentemente da espécie florestal. A construção e manutenção de caminhos e corta-fogos internos (faixas de terreno aberto) impede a progressão dos incêndios e permite a circulação das equipas de combate para uma atuação rápida e em segurança.

Assim é recomendado que atempadamente seja implementada a construção, beneficiação desses caminhos florestais, devendo posteriormente ser feita a manutenção periódica para regularizar o piso e limpar as valas de drenagem, garantindo uma densidade de biomassa baixa.

Na construção de caminhos florestais é recomendada a sua interligação com a restante rede viária da região, para permitir a circulação de veículos no apoio à atividade de instalação, manutenção e exploração florestal, bem como no “combate a incêndios”. Deve ainda ser prevista, a condução da água para fora dessas vias, através da construção de corta-águas e valas de drenagem, bem como a necessidade de prevenir o cruzamento e inversão de marcha de veículos, nomeadamente pesados. As bermas das estradas e caminhos devem funcionar como obstáculos à propagação do fogo.

Após estas considerações, elaboradas por peritos de Gestão Florestal, a nossa Proteção Civil Municipal, persiste em estar de costas voltadas para a defesa da nossa Floresta.

O profundo desleixo e abandono dado na manutenção dos caminhos florestais das nossas matas é gritante. O alerta que se lança, pretende suplicar que no mínimo se faça a manutenção dos caminhos florestais existentes! Não estamos a exigir, embora se justificasse, melhor rede viária florestal, mas que não deixem ao abandono os caminhos florestais existentes.

Na minha área de residência, recentemente deflagraram dois grandes incêndios. Segundo os Bombeiros, os incêndios podiam ter sido menores, se os caminhos florestais estivessem desimpedidos. Quem devemos responsabilizar?

Estamos em pleno Verão, onde continuamos a assistir à falta de manutenção e limpeza de caminhos florestais votados ao abandonado. Caso volte a haver incêndios nessas matas florestais, os responsáveis pela Proteção Civil Concelhia (a começar no Presidente da Câmara até ao Presidente da Junta, passando pelos Serviços da Proteção Civil Municipal) terão que ser responsabilizados como “incendiários passivos da nossa floresta”.

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António Cardoso

Antonio Cardoso
COLUNISTA
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