Será que a Meta e o Google o ouvem?
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Nos últimos anos, surgiram várias acusações de que gigantes tecnológicas como Google e Meta (anteriormente Facebook) utilizam microfones dos smartphones para escutar conversas e direcionar anúncios personalizados, uma prática conhecida como ‘Active Listening’. A teoria ganhou força com relatos de utilizadores que afirmam ter recebido anúncios sobre temas mencionados apenas em conversas privadas. No entanto, tanto Google quanto Meta negam consistentemente estas alegações, afirmando que os microfones dos dispositivos só são ativados com palavras-chave, como ‘Hey Google’, e que a personalização dos anúncios se baseia em dados de navegação e interações online.

Várias investigações independentes e estudos de segurança não encontraram provas concretas de que estas empresas monitorizem conversas de forma contínua, embora a desconfiança persista. Recentemente, a divulgação de um relatório da 404 Media reacendeu o debate. O relatório revelou que o Cox Media Group (CMG), parceiro de marketing da Meta, utilizava tecnologia de ‘Active Listening’ para recolher dados de áudio em tempo real, levantando novas preocupações sobre privacidade digital.

Após a publicação do relatório, a Google removeu rapidamente o CMG do seu Programa de Parceiros, numa clara tentativa de distanciar-se destas práticas controversas. A Meta e a Amazon também negaram envolvimento direto com o CMG, com a Google a destacar a sua seriedade em questões de privacidade. Embora a ideia de que as empresas estão a ouvir os utilizadores seja tecnicamente possível, a ausência de provas concretas limita a sua credibilidade, embora continue a gerar alarme.

A coleta de dados por empresas como Google e Meta é baseada em algoritmos avançados que analisam os comportamentos dos utilizadores para direcionar anúncios de forma personalizada. Embora não existam provas de que as empresas usem os microfones para monitorizar conversas, a sofisticação da tecnologia de reconhecimento de voz levanta preocupações sobre até onde estas práticas poderão evoluir, especialmente no que toca à privacidade.

Os utilizadores, por sua vez, precisam de estar atentos às permissões que concedem aos seus dispositivos e ajustar regularmente as configurações de privacidade. A utilização de bloqueadores de anúncios e rastreadores também pode ajudar a mitigar riscos, reduzindo a recolha excessiva de dados. Mais importante ainda, é crucial que os utilizadores exijam maior transparência às empresas sobre as suas práticas de recolha e uso de dados, bem como apoiem iniciativas que promovam uma regulamentação mais eficaz na proteção da privacidade digital. A ação individual e coletiva pode ser essencial para garantir que a recolha de dados se faz de forma responsável.

Apesar de a teoria do ‘Active Listening’ não estar sustentada por provas definitivas, o caso do CMG serve como um lembrete das preocupações sobre a privacidade online. Incidentes como este sublinham a importância de um debate contínuo sobre os limites da recolha de dados e a necessidade de uma maior supervisão sobre como as grandes empresas utilizam as informações dos utilizadores. Num mundo cada vez mais dependente da tecnologia, é imperativo que as empresas sejam responsabilizadas e que a privacidade digital dos indivíduos seja protegida de maneira eficaz, através de regulamentações claras e mecanismos de controlo ajustados à realidade digital moderna.

* O autor escreve em português do Brasil

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Alecsander Pereira

Alecsander Pereira
COLUNISTA
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